Futuro da água: reduzir perdas, investir, adaptar
- 28 novembro 2025, sexta-feira
- Água

FOTOGRAFIA COCOPARISIENNE/ PIXABAY
Cátia Vilaça
A redução de perdas continua no topo das preocupações de um setor que tem também de lidar com o impacto das alterações climáticas e as assimetrias territoriais. O grande debate do ENEG olhou para todos estes problemas e concordou na dificuldade de implementar soluções
O presidente da Comissão organizadora do ENEG, José Martins Soares, abriu o grande debate com uma prioridade: redução de perdas, compreensível num país que lida com problemas de escassez. Para Alexandra Serra, vogal do Conselho de Administração da Águas de Portugal, é de facto uma prioridade, mas não basta. Também é necessário aumentar a resiliência dos territórios a sul do Tejo, onde quase já se chegou ao limite de não ter água nas torneiras.
Vera Eiró, Presidente do Conselho de Administração da ERSAR, concordou no diagnóstico, tendo acrescentado a dificuldade de estabelecer pontes entre setores utilizadores de água, como a agricultura e o turismo. Para a responsável, é também necessário manter e fortalecer as colaborações entre autarquias e Estado.
A gestão foi um tema a dividir os participantes. Para Eduardo Marques, presidente da direção da AEPSA, este é o maior problema do setor, ultrapassando o investimento. Para o responsável, há tecnologia e meios humanos suficientes para investir em gestão de perdas, além de haver concursos na área para quem não tem técnicos suficientes. Já José Martins Soares admite que possa ser fácil resolver o problema numa primeira instância, mas depois é difícil manter por falta de recursos: “há municípios onde um engenheiro trata da água, dos cemitérios e do trânsito”, exemplificou.
Para o responsável, é necessário que haja vontade política de ter uma estratégia. Por outro lado, é difícil reter pessoas. “O setor da água é tão complexo como o da energia, tão crítico como o das telecomunicações e tão vital como o da saúde”, descreveu, mas os jovens preferem os setores da energia ou das telecomunicações porque o da água ainda é gerido com políticas “do século passado”.
Para Vera Eiró, seria importante colocar em cima da mesa a empresarialização para entidades gestoras que servem mais de 20 mil pessoas, na medida em que uma gestão mais empresarial possa abrir a porta a uma capacidade técnica mais relevante e a uma maior proteção dos serviços face à restante atividade do município.
Jesus Maza trouxe a visão do outro lado da fronteira, onde todos os modelos de gestão - público, privado e misto - convivem. O Presidente da DAQUAS - Asociación Española del Agua Urbana afirma que não é a natureza do modelo que garante condições de igualdade aos cidadãos, mas a transparência tarifária. O segredo é colocar o cidadão no centro, independentemente de o modelo ser público ou privado. E nem sempre é fácil que a decisão política olhe para isso, porque “tudo o que está enterrado não se vê, e ao político não interessa”, ilustra Maza. Por isso, há ramais que não se renovam há demasiado tempo.
A questão tarifária
Maza lamentou também que no mundo da água o debate se faça sempre entre os mesmos, sem a participação de autarcas e cidadãos comuns. O debate apenas extravasa estas fronteiras em época eleitoral, com a questão tarifária a servir de trunfo.
A este propósito, Pimenta Machado fez questão de frisar a importância de garantir a acessibilidade da água, ou não se tratasse de um bem essencial.
Vera Eiró adiantou que a ERSAR se encontra a preparar o regulamento tarifário da água, que passará por uma fase de consulta pública, mas deixou um alerta para a importância de garantir que seja suficiente para proteger os serviços, sem deixar de responder a questões sociais, e sugere que a discrepância de modelos entre entidades gestoras não tem ajudado à adesão ao tarifário social.
Eduardo marques considera haver espaço para o aumento de tarifas.
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