Entrevista a Gonçalo Lobo Xavier

O responsável pela associação que representa o retalho assume uma postura ambiciosa mas realista em relação à redução do consumo de plástico, colocando a tónica no uso racional e não na abolição. Gonçalo Lobo Xavier descreve o caminho que o setor tem vindo a percorrer na antecipação de medidas legislativas e a importância da crescente exigência dos consumidores nesta matéria.

Entrevista por Cátia Vilaça

Gonçalo Lobo Xavier é licenciado em Administração e Gestão de Empresas. Foi assessor do Conselho de Administração da AIMMAP, tendo sido delegado nacional para as PME ao Programa de Inovação Horizonte 2020. É diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) desde 2018.

Existe algum levantamento recente que permita quantificar o plástico gasto anualmente pelo retalho?

Vou responder à sua questão de outra forma: o setor já pôs em prática, quer através da APED quer a nível individual, iniciativas que permitiram uma poupança superior a 7800 toneladas de plástico em 2019, o que representa uma redução de cerca de 80 por cento no plástico consumido.

De entre os vossos associados, poderá haver setores a fazer progressos mais significativos do que outros na redução da quantidade de plástico utilizada? Aqui compreendo que para o retalho alimentar se coloquem questões mais complicadas do ponto de vista da conservação dos alimentos. Existem setores que se estejam a destacar mais do que outros, seja por estarem a dar mais prioridade a essa questão, seja porque é mais fácil arranjar material que substitua o plástico?

Em 2019 fizemos um protocolo com a Agência Portuguesa do Ambiente para promover o uso eficiente do plástico na cadeia de valor do setor da distribuição. Aqui não houve uma preocupação específica com o retalho alimentar, houve uma preocupação com a cadeia de valor no seu todo, que passa por retalho alimentar e retalho especializado. Realmente, no retalho alimentar há uma utilização mais visível de embalagens de plástico mas no retalho especializado há ainda uma utilização bastante intensiva do plástico. Às vezes custa muito dizer isto porque não é politicamente correto, mas a verdade é que nós não temos o objetivo de abolir o plástico porque achamos que isso não é possível, e por isso referimo-nos sempre à utilização racional do plástico. O plástico não vai acabar e tem propriedades muito interessantes do ponto de vista da conservação dos alimentos. O que acontece é que há, por parte do consumidor, uma displicência na utilização destas embalagens no fim de vida, e é aqui que nós julgamos que a distribuição, seja no retalho especializado seja no retalho alimentar, pode ter um papel preponderante no sentido de educar os consumidores para a utilização racional, sobretudo no fim de vida das embalagens. Repito, vai haver cada vez mais soluções intermédias e soluções equilibradas mas o plástico não vai acabar. Queremos que os consumidores, no fim da utilização dos seus produtos, reciclem ou depositem [as embalagens] nos locais próprios para o plástico ser reciclado, e não tenham uma atitude displicente, atirando para o lixo comum ou não promovendo a reutilização. Nós temos obrigação de prover um uso responsável do plástico e estamos, por isso, completamente alinhados com a Estratégia Europeia dos Plásticos, que em 2019 teve uma preponderância muito grande e vai continuar a ter. Não respondendo diretamente à sua questão, o que digo é que em toda a cadeia de valor há oportunidades de sermos criativos, por um lado na promoção da utilização racional do plástico, e por outro no desenvolvimento de soluções que venham de encontro aos objetivos da Estratégia Europeia dos Plásticos e da Estratégia Portuguesa [Pacto Português para os Plásticos].

Ia precisamente perguntar de que forma é que o setor se está a preparar para a Diretiva dos Plásticos de Uso Único.

É importante que se diga que isto não é um processo imediato. Não se pode abolir por decreto, apesar das diretivas. Tem de haver um período de transição. A pandemia de COVID-19 veio demonstrar que ainda há um grande caminho a percorrer no sentido de desenvolver tecnologia e soluções que permitam a abolição do material de uso único. Mas a verdade é que tem havido um esforço enorme por parte dos retalhistas associados da APED no sentido não só de cumprir a legislação mas de antecipar o cumprimento dos objetivos legislativos de abolir a utilização única. Nos nossos retalhistas veem-se cada vez menos palhinhas de plástico, cada vez menos talheres de plástico (ou mesmo ausência), e uma promoção cada vez maior do ecodesign, com embalagens mais eficientes e que utilizem menos plástico, sobretudo nas marcas próprias dos retalhistas. Há um esforço e um investimento no sentido de “catequizar” os consumidores e orientá-los para uma utilização racional do plástico. Desculpe repetir-me mas esta é uma expressão que me é cara e que nós insistimos para que seja uma realidade (...)

Leia a entrevista completa na Indústria e Ambiente nº123, jul/ago 2020

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