Destruição de habitats em zonas húmidas pode estar a matar aves costeiras

A destruição de habitats em zonas húmidas pode estar a levar ao declínio das populações de aves costeiras, algumas com uma diminuição para metade, indica um estudo internacional de quatro investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Segundo o estudo, publicado na revista científica “Science of the Total Environment”, as alterações globais nas zonas húmidas podem ser críticas para a conservação das aves limícolas (típicas de zonas costeiras como estuários e lagoas).

O primeiro autor do estudo, Carlos Santos, explicou à agência Lusa que algumas espécies de aves da rota migratória do leste da Ásia e Australásia, como a seixoeira e o fuselo, estão em “acentuado declínio”, e o mesmo acontece com outra espécie de seixoeira na rota migratória do Atlântico Este.

Em Portugal há aves limícolas (que habitam na lama ou no lodo), como uma espécie de seixoeira que passa no estuário do Tejo, mas a investigação não apurou grandes diferenças nos habitats em território nacional.

Segundo o responsável, investigador no Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, no Departamento de Biologia Animal da Faculdade de Ciências e no Max Planck Institute of Animal Behavior, na Alemanha, o estudo inclui três áreas em Portugal (entre as 907 áreas costeiras de todo o mundo importantes para as aves e para a biodiversidade): os estuários do Tejo e do Sado e a Ria Formosa.

Não foram detetadas “mudanças significativas” de habitat em 20 anos nessas zonas, tendo sido detetadas mudanças significativas no Mediterrâneo e no leste asiático e sudoeste da Austrália, disse.

No leste asiático, exemplificou, em muitas zonas entre marés, onde as aves se alimentam, houve alterações, como emparedamento de zonas de lama, para conquistar terra para indústria e para habitação, e também para piscicultura. O avanço da fronteira urbana pelo mar, na China, acontece a um ritmo acelerado, disse.

Outro exemplo que leva ao declínio de 50 por cento de uma subespécie de seixoeira na rota migratória do Atlântico Este relaciona-se, acrescentou o responsável, com a dependência das aves de ovos de caranguejos ferradura, uma espécie que nos últimos anos começou a ser apanhada em larga escala por causa das propriedades do seu sangue.

Carlos Santos salientou que muitas vezes não é fácil perceber as variações que levam ao declínio, mas adiantou ainda assim que, ao longo dos últimos 20 anos, foram detetadas muitas mudanças em termos globais, nomeadamente pela alteração do uso do solo e nas zonas periféricas, onde as aves descansam na maré cheia.

O investigador explicou que a maioria das aves em questão migra para longas distâncias, muitas vezes percorrendo mais de 20 mil quilómetros por ano, e muitas nidificam no Ártico, onde há uma grande mudança dos ecossistemas devido às alterações climáticas.

Ainda assim, o investigador não aponta o declínio nas aves limícolas a essa ou outra causa, afirmando que pode haver vários fatores além das mudanças no Ártico, além da subida do nível da água do mar e da destruição de habitats.

Carlos Santos assegurou que não há declínio de reprodução no Ártico, dizendo que não há dúvidas do “papel significativo” das zonas húmidas.

Num comunicado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, afirma-se que mais de metade das populações das aves limícolas costeiras – maçaricos, pilritos, borrelhos, entre outras – encontra-se em declínio, segundo estudos.

Newsletter Indústria e Ambiente

Receba quinzenalmente, de forma gratuita, todas as novidades e eventos sobre Engenharia e Gestão do Ambiente.


Ao subscrever a newsletter noticiosa, está também a aceitar receber um máximo de 6 newsletters publicitárias por ano. Esta é a forma de financiarmos este serviço.