A Cimeira de Ação Climática das Nações Unidas, as decisões intertemporais, a taxa de desconto temporal e a preocupação crescente com a crise climática

O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, convocou no passado dia 23 de setembro uma Cimeira de Ação Climática para incentivar os países a apresentarem planos de mitigação das alterações climáticas, ou seja, de redução das emissões antropogénicas de gases com efeito de estufa, mais ambiciosos do que aqueles que propuseram quando o Acordo de Paris foi aprovado em 2015. É notório que António Guterres está muito preocupado com a tendência, prevalecente em muitos países, para menosprezar a crise climática e evitar combatê-la de forma empenhada e eficaz. Ele acredita no que os cientistas lhe dizem sobre a severidade dos impactos das alterações climáticas no presente e no futuro e sente a responsabilidade das Nações Unidas em liderarem por via multilateral a resolução deste problema global que envolve tudo e todos no planeta Terra. A tarefa, porém, é extraordinariamente difícil, devido à dificuldade humana em lidar com o médio e longo prazo, relativamente ao presente e ao curto prazo.

A questão centra-se no exercício das escolhas intertemporais, ou seja, escolhas que envolvem decisões cujas consequências se repercutem em tempos futuros. Este tipo de decisões, muito frequentes no quotidiano, força-nos a imaginar o futuro e a estabelecer comparações entre custos e benefícios que ocorrem em tempos distintos. Adam Smith em 1759 foi um dos primeiros a analisar a problemática das escolhas intertemporais e concluiu que o nosso comportamento é determinado por uma luta entre dois processos que designou por “paixões” e pelo “espetador imparcial”.

Quando se trata de decidir entre uma gratificação imediata com custos futuros elevados ou o adiamento da gratificação com menores custos futuros, o espetador imparcial “serve como fonte de abnegação, de autogoverno, daquele comando das paixões que submete todos os movimentos da nossa natureza àquilo que a nossa dignidade e honra, e a correção do nosso comportamento, requerem”. Apesar da lucidez das análises feitas sobre o assunto por Adam Smith e mais tarde por John Rae em 1834, preferir o planeamento e a obtenção de resultados distantes no tempo e ter paciência para os aguardar em lugar de obter resultados imediatos apetecíveis mas pouco sustentáveis é dos exercícios mais difíceis para a vontade humana. (...)

Artigo completo da Indústria e Ambiente nº118 set/out 2019

Filipe Duarte Santos

Autor da coluna Alterações Climáticas / Presidente do CNADS

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