Após o apagão, a resiliência energética das empresas está em foco

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Christina Genet

Depois da falha de grande escala na rede elétrica da Península Ibérica no passado dia 28 de abril, muitas organizações questionam-se sobre como reforçar a sua resiliência energética.

Velas, um stock de pilhas e um rádio transistor. Já passou uma semana desde que Portugal e Espanha acabaram a jantar à luz de velas, mergulhados na escuridão. O apagão que afetou a Península Ibérica no passado dia 28 de abril revelou sobretudo uma coisa: a vulnerabilidade da população e das empresas num país cujo funcionamento depende fortemente do sistema elétrico nacional. Esta é uma constatação partilhada pelo Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI), que aproveitou este evento extraordinário para divulgar uma análise sobre as possibilidades disponíveis para aumentar a resiliência energética das organizações.

“Várias empresas, mesmo tendo investido em sistemas fotovoltaicos para autoconsumo, viram-se incapazes de os utilizar para manter as suas operações”, observaram Eduardo Silva e Miguel Marques no dia do apagão. Ambos são consultores em energias renováveis no INEGI e explicam que a principal razão para as unidades de produção para autoconsumo (UPAC) de origem solar se desligarem prende-se com o modo de funcionamento dos inversores fotovoltaicos. Na maioria dos casos, trata-se de inversores grid-following que operam “em sincronismo com a rede elétrica, ajustando a sua saída” consoante a frequência e a tensão da mesma. Sem uma referência da rede pública, como acontece em caso de falha generalizada, os inversores desligam-se automaticamente por questões de segurança.

Sistemas híbridos de autoconsumo

De acordo com o enquadramento legal atual, o autoconsumo é por defeito “uma atividade ligada à rede e não isolada.” Existem, no entanto, alternativas nomeadamente através da utilização de “sistemas híbridos de autoconsumo com baterias e inversores com a função de ‘backup’ e grid-forming”, explicam os consultores. Dessa forma, as organizações conseguem alimentar a sua própria rede interna com base em referências próprias de frequência e tensão. Este procedimento permite manter o fornecimento de energia mesmo em caso de falha da rede pública. No entanto, é essencial garantir o uso de quadros de transferência automática (ATS), para evitar que a energia gerada seja injetada na rede durante o apagão, o que poderia pôr em risco a segurança dos técnicos e dos equipamentos.

Para iniciar esta transição, cada empresa deve considerar dois fatores fundamentais: o seu contexto específico e o seu perfil de consumo energético, ou seja, as suas necessidades em termos de equipamentos e padrões de consumo. Numa segunda fase, convém avaliar os riscos reais da empresa, tendo em conta a sua localização e o seu processo produtivo. E por fim, mas não menos importante, é essencial contar com o apoio de especialistas e rodear-se de profissionais com experiência técnica comprovada.

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