Agência Internacional de Energia pede mais investimento público em inovação

FOTO: fabersam / pixabay

Apesar do maior leque de tecnologias energéticas em desenvolvimento a nível global, a inovação está num momento determinante, mas o financiamento parece estar a diminuir e as prioridades a mudar, alerta a Agência Internacional de Energia

The State of Energy Innovation ou O Estado da Inovação na Energia, o relatório da Agência Internacional de Energia lançado no início de abril, faz uma revisão às tendências recentes de inovação tecnológica no setor da energia, a partir da análise de mais de 150 destaques de inovação e um inquérito a cerca de 300 profissionais de 34 países. Os resultados revelam o papel central da inovação no avanço das estratégias nacionais e industriais, e oportunidades chave para manter o ritmo de progresso.

O relatório mostra que a inovação na energia tem trazido relevantes benefícios económicos e de segurança. Os investimentos em inovação que se seguiram à crise petrolífera dos anos 70 conduziram à expansão do nuclear e reduziram a dependência de combustível importado para muitos países. Também os avanços tecnológicos em baterias e veículos elétricos reduziram as importações de petróleo da China e o gás de xisto fez dos EUA um exportador.

Hoje, as estratégias económicas dos países colocam ênfase acrescido na competitividade económica, segurança e resiliência, tornando o progresso na inovação extremamente importante.

Nos últimos anos registou-se, segundo a agência, um aumento consistente na atividade de inovação. A despesa pública e empresarial com investigação na área cresceu a uma taxa anual média de 6 %, apesar de as iniciativas iniciais para 2024 indicarem que o crescimento pode estar a abrandar em algumas economias avançadas. A investigação e desenvolvimento do setor privado em energia ultrapassou o crescimento económico, sobretudo no setor automóvel e das renováveis. Já a aviação e o transporte marítimo reduziram a sua quota parte de despesa em I&D na última década. O capital de risco para financiar tecnologias ligadas à energia foi usado mais de seis vezes entre 2015 e 2022, atingindo níveis equivalentes a todo o investimento público em I&D. Este influxo de capital privado apoiou cerca de 1800 start-ups de energia. Na visão da agência, mesmo que apenas uma parte destas empresas consiga ter sucesso, isso já representaria um impacto significativo nos sistemas globais de energia até 2030. Contudo, esta tendência de investimento reverteu-se em 2023 e 2024, com este tipo de financiamento a decrescer em mais de 20 %. Apenas a inteligência artificial beneficiou de um aumento do influxo deste tipo de capital, o que pode acelerar a inovação na energia, mas também desviar capital do setor.

Os esforços de inovação também estão a tornar-se cada vez mais globais, com a China a originar o maior número de patentes na energia, e mais de 95 % dessas patentes estão relacionadas com tecnologias de baixas emissões.

O financiamento público e privado para projetos de larga escala alcançou, só nesta década, cerca de 60 mil milhões de dólares (cerca de 53 mil milhões de euros). Apesar do montante, estes projetos enfrentam atrasos por causa da inflação e incerteza nas políticas. A maioria dos projetos ainda não chegou à fase final da decisão em termos de investimento e 95 % do financiamento para a fase de demonstração está concentrado nos EUA, Europa e China. Com os governos a mudar prioridades, a agência pede uma ação coordenada.

O investimento público em investigação e desenvolvimento corresponde apenas a 0,04 % do PIB nos países membros da Agência Internacional de Energia – menos de metade do verificado no início dos anos 80 que, embora fosse um período subsequente a uma crise, não contava com as questões climáticas e de segurança que hoje se colocam. Recomenda-se, por isso, políticas orientadas para o investimento público, para o apoio ao desenvolvimento tecnológico ao longo dos ciclos económicos e para o fortalecimento da cooperação internacional para que seja possível levar os projetos de demonstração ao mercado.

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