Água e território: planear e concretizar

O segundo dia do ENEG abriu com uma mesa-redonda sobre o futuro climático, centrado na relação entre água e território. Reconhecimento dos progressos alcançados na redução das emissões anda a par com a necessidade de ir mais longe
Falar de alterações climáticas é hoje inevitável em qualquer contexto, e também quando se fala dos desafios das entidades gestoras de água e saneamento. Os fogos florestais são um exemplo, conforme destacado pelo professor e investigador Rodrigo Proença de Oliveira.
Os fogos podem trazer contaminantes à água, mas também afetar a própria infraestrutura, conforme acontece com as tempestades e cheias. Mas a velocidade das alterações demográficas também pode ser superior à capacidade de adaptação das infraestruturas: territórios que se desertificam deixam uma entidade gestora sem utentes, e territórios que densificam a sua população colocam desafios acrescidos de abastecimento e tratamento - basta pensar em zonas como o Algarve, onde esta variação acontece ao longo do ano por via do turismo e da sazonalidade, com os problemas que se conhecem. Por isso, importa começar a pensar em planos de segurança capazes de fazer face a estes riscos, sublinhou o professor do Técnico. Reinventar, como já fizeram os SMAS de Sintra quando, no final dos anos 90, tiveram de dar um uso às captações que deixavam de ser necessárias porque o abastecimento chegou a todas as populações, conforme exemplificou Jorge Vilela, diretor do departamento de Planeamento e Obras.
Apesar das assimetrias, o território não deve ser encarado por gavetas, na perspetiva de Carlos Ribeiro, diretor executivo do Laboratório da Paisagem, em Guimarães. “A realidade de outra cidade pode transformar-se na nossa”, alertou. E hoje, as ferramentas de recolha e análise de dados e de cenarização dão uma valiosa ajuda. A cidade-berço já aplicou o princípio, ao replicar uma iniciativa de Loulé para reutilizar a água de piscinas para fins menos nobres, sob o princípio de que a escassez vivida no Algarve pode um dia chegar ao norte. Para além da atividade de produção e divulgação científica, o Laboratório desenvolve também uma vertente de sensibilização da população, que Carlos Ribeiro considera essencial, para que todos percebam que os problemas são comuns.
Evolução positiva mas insuficiente
No que a retrospectivas diz respeito, o balanço até pode parecer, à primeira vista, positivo. Há 10 anos previa-se um aumento "catastrófico" das emissões e da concentração de gases com efeito de estufa, e afinal foi possível reduzir esses parâmetros, constatou Rodrigo Proença de Oliveira. Contudo, não é suficiente. Os dados apontam para um aquecimento, neste momento, 1,4 graus acima dos níveis pré-industriais, por isso deve-se chegar a 1,5 graus até ao final da década. E também a nível da gestão dos recursos hídricos há muito a fazer, segundo o docente.
O passado já não pode ser padrão para planear o futuro, e teremos de lidar, por exemplo, com a redução da precipitação, o que deve levar a refletir sobre a rigidez dos caudais ecológicos, que têm de ser fixos, apesar de o caudal dos rios vir a diminuir. Para o docente, é necessário encontrar mecanismos para alterar isto, à semelhança do que acontece com os protocolos com Espanha.
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