O tição, menina!

Floresta – equilíbrio entre economia e preservação. É esta a equação que se explora neste número da Indústria e Ambiente dedicado à Biomassa, Solos e Florestas. A entrevista com o Diretor-Geral de Energia e Geologia, João Bernardo, foca-se naturalmente no aproveitamento energético da biomassa, mas sem esquecer o ordenamento do território e a sustentabilidade. Os artigos vão da remoção da biomassa à análise do contributo da bioenergia.

Andorinha, em Travanca de Lagos, era destino certo pelo Natal. “Aviva o lume, menina! Olha o tição!”, dizia o avô Carvalho, com voz de quem estava habituado a ser obedecido! E, simultaneamente, de incredibilidade pelo “pouco que sabem os gaiatos da cidade”! E, mal sabia o avô Carvalho, que hoje, a neta, engenheira silvicultora, lhe diria “É biomassa, ‘vô! Bi-o-ma-ssa!”!

A Diretiva da UE 2001/77/EC define biomassa como “a fração biodegradável de produtos e resíduos da agricultura, da floresta e das indústrias conexas, bem como a fração biodegradável dos resíduos industriais e urbanos”. A biomassa, como fonte de energia, tem a particularidade de ser neutra em termos de emissão de CO2 e de estar relativamente disponível a nível mundial.

Cerca de 33% da área de Portugal Continental é área florestal. No entanto, Portugal não consegue satisfazer as necessidades das indústrias associadas às principais espécies da floresta portuguesa. Daí que a procura de biomassa não deva ser concorrente dos usos principais da indústria, devendo acrescentar valor à floresta. Assim, há aqui uma oportunidade para a valorização económica da biomassa florestal proveniente de resíduos de exploração ou da eliminação de espécies indesejáveis (leia-se o artigo do Jorge Gominho e do António Fabião) resultantes da gestão das áreas florestais.

Nos estudos de disponibilidade de biomassa florestal feitos em Portugal é considerada, por norma, a disponibilidade potencial. Ou seja, a biomassa existente na floresta, incluindo o aproveitamento dos cepos de árvores cortadas e o estrato arbustivo, sem que sejam consideradas as acessibilidades físicas e os custos (elevadíssimos) associados à exploração e transporte desses recursos.

Segundo a definição aprovada na Segunda Conferência Ministerial para a Proteção das Florestas na Europa, em 1993, sustentabilidade é a administração e o uso das florestas de uma forma e a um ritmo que mantenham a biodiversidade, produtividade, capacidade de regeneração, vitalidade e o potencial para satisfazer, no presente e no futuro, funções ecológicas, económicas e sociais relevantes aos níveis local, nacional e global, não causando danos a outros ecossistemas. E não se pode falar de sustentabilidade - económica, social e ambiental- sem se ter em conta o impacto que a remoção da biomassa residual pode ter na qualidade do solo e na produtividade do sítio. Como refere Manuel Madeira no seu artigo desta revista, “A gestão sustentável dos sistemas florestais implica equacionar os cenários de utilização da biomassa residual no contexto da especificidade dos sítios e, em especial, do tipo de solos.”.

Quando a Leonor Amaral me convidou para ser coeditora de um número sobre Biomassa, Solos e Floresta, aceitei sem hesitar com um “Tenho as pessoas certas!”. Para escrever sobre o efeito da remoção da biomassa florestal residual no Solo(s), só podia ser o Manuel Madeira, meu Professor de Pedologia, por quem tenho uma enorme admiração! A Floresta ficou entregue aos meus colegas João Pinho e Cristina Santos! A valorização da Biomassa como instrumento de gestão florestal foi para o meu colega Jorge Gominho e para o Professor António Fabião! E a caracterização da Bioenergia, como grande fonte de energia renovável em Portugal, foi para o Paulo Preto dos Santos! E a entrevista só poderia ser com o meu colega de curso João Pedro Bernardo!

Espero que desfrutem com este número!

Autor:

Paula Soares (Professora Associada do Instituto Superior de Agronomia)

Co-editorial pubicado na edição nº 116 da IA

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