Da gestão de resíduos ao abastecimento energético

A Semana da Energia Sustentável, iniciativa promovida pela Comissão Europeia que decorre até 8 de junho, serviu de mote à LIPOR para uma sessão sobre o papel da valorização energética.

No polo da Maia, a central de valorização energética da LIPOR trata resíduos provenientes de aterros de municípios da zona norte e gera energia que é injetada na rede e utilizada para alimentar a própria central. As 1100 toneladas de resíduos tratadas diariamente são o combustível para a produção de 25 MWh de energia elétrica.

Energia dos resíduos poderá chegar ao aeroporto em breve

Está neste momento em curso um estudo de viabilidade económica cujo objetivo é avaliar a possibilidade de abastecer o aeroporto Francisco Sá Carneiro (a menos de 3 km de distância) com energia proveniente desta central. Ainda terá de ser produzido um relatório técnico, mas segundo Abílio Almeida, Chefe de Divisão da Divisão de Valorização Energética e Confinamento Técnico, a central já dispõe de condições para abastecer o aeroporto, que apenas precisará de um sistema de back-up para os períodos de paragem obrigatória da central, que totalizam 4 a 5 dias por ano. Embora Abílio Almeida reconheça que o aeroporto não é suficiente para compensar o investimento – apesar de as condições de produção estarem asseguradas, é preciso não esquecer os estudos e a necessidade de criar infraestruturas de ligação – garante também haver outros interessados nas imediações.

O que não arde recicla-se

À central de valorização da LIPOR chega todo o tipo de resíduos indiferenciados, incluindo os sacos de plástico onde os resíduos são colocados pelos cidadãos e tudo o que for parar ao aterro. De acordo com Abílio Almeida, nenhuma destas categorias de resíduos coloca problemas ao nível da emissão de CO2. Além disso, é possível recuperar metais para reciclagem. Apesar de a temperatura, em alguns pontos do sistema, ultrapassar os 1000 graus Celsius, o período durante o qual os materiais ficam sujeitos a essa temperatura não é suficiente para os inutilizar. Até 90 por cento da fração metálica pode ser recuperada e a fração mineral pode ser quase integralmente valorizada. Os recursos que daqui resultam podem ser utilizados na indústria da reciclagem mas também na da construção e obras públicas…

…em linha com os objetivos da Economia Circular

A Comissão Europeia adotou, no final de 2015, um ambicioso pacote de Economia Circular, que prevê a reciclagem de 65 por cento dos resíduos urbanos até 2030 e de 75 por cento dos resíduos de embalagens. A deposição em aterro não deverá ultrapassar os 10 por cento de todos os resíduos. O aproveitamento da fração mineral e metálica acaba por seguir esta lógica, acrescentando à valorização um potencial de reutilização, além do mais óbvio de fornecimento de energia.

Apesar deste potencial, as metas nacionais de gestão de resíduos e o próprio PERSU 2020, cujo cumprimento o Ministro do Ambiente já assumiu ser difícil não estão vocacionadas para a valorização energética mas, sobretudo, para a prevenção da produção e o encaminhamento para reciclagem. Ora, esses objetivos parecem estar de facto comprometidos, já que o PERSU preconizava que a produção de resíduos urbanos per capita em 2016 fosse 10 por cento inferior à verificada em 2007, não devendo exceder os 421 kg / (hab.ano). Em 2017, e de acordo com o Relatório do Estado do Ambiente, essa produção foi de 483 kg / (hab.ano). Entre 2013 e 2017, a produção de resíduos tem vindo a aumentar, o que demonstra que ainda não foi possível dissociar o crescimento económico desta produção. Por isso, a LIPOR está a intensificar a recolha porta-a-porta, de forma a tornar o processo de separação mais cómodo para o cidadão. Além disso, o administrador-delegado da LIPOR, Fernando Leite, não duvida da importância da sensibilização para que a separação de resíduos continue a ser uma realidade, lembrando que as grandes campanhas terminaram em 2008, trazendo como consequência um abrandar do cumprimento destes preceitos. A seguir à recolha porta-a-porta, os mecanismos de Pay-as-You-Throw deverão começar a ser uma realidade, havendo já estudos a ser desenvolvidos na Maia nesse sentido.

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