Eletricidade renovável está a crescer, mas subsistem barreiras à neutralidade

  • 06 dezembro 2021, segunda-feira
  • Energia

De acordo com o último relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) sobre Renováveis, o aumento da capacidade instalada destas fontes de energia deve alcançar um novo record em 2021, sobretudo por impulso do solar fotovoltaico. Este ano deverá terminar com um acréscimo de 290 GW de capacidade, um valor três por cento mais elevado do que o de 2020, um ano que já tinha registado um crescimento excecional. Por si só, o solar fotovoltaico é responsável por mais de metade de toda a expansão de energia renovável em 2021, seguido da eólica e da hidroelétrica.

Prevê-se que o crescimento da capacidade renovável acelere nos próximos cinco anos, representando quase 95 por cento do crescimento da capacidade instalada de energia global em 2026. Em termos globais, a capacidade instalada de eletricidade renovável deverá aumentar em 60 por cento entre 2020 e 2026, alcançando mais de 4800 GW, o que equivale à capacidade existente de fontes fósseis e nucleares. A China manterá a liderança neste crescimento, seguida da Europa, EUA e Índia. Estes quatro mercados são responsáveis por 80 por cento da expansão das renováveis.

O compromisso da China de chegar à neutralidade carbónica em 2060 tem levado o país a assumir outras metas mais próximas, como alcançar 1200 GW de capacidade eólica e solar fotovoltaica em 2030. A AIE prevê, contudo, que o país consiga alcançar a sua meta quatro anos mais cedo. Na União Europeia, a trajetória de crescimento de renováveis deve mesmo ultrapassar o que os respetivos PNEC preconizam para 2030. O crescimento rápido tem sido ditado pelos países que implementam leilões de maior dimensão, empresas que contratam mais energia renovável e consumidores que continuam a instalar grandes quantidades de painéis solares.

Apesar do aumento dos preços, o solar fotovoltaico deverá bater novos recordes, com aumentos de capacidade da ordem dos 17 por cento em 2021, o que traçará um novo recorde anual de quase 160 GW. O aumento dos custos do gás natural e do carvão torna esta opção mais atrativa.

O acréscimo de capacidade de eólica onshore em 2026 deverá ser quase 25 por cento maior do que a média do período 2015-2020. Em 2020 esses aumentos duplicaram, chegando a quase 110 GW. A situação foi motivada por uma aceleração na China, que desenvolveu projetos antes que os respetivos subsídios vencessem. Ainda que os aumentos anuais não devam chegar ao record de 2020, a agência prevê que se situem numa média de 75 GW anuais até 2026.

A capacidade instalada de eólica offshore deverá mais do que triplicar até 2026. Até lá, os aumentos neste setor devem representar um quinto do mercado eólico global.

Para suportar a integração de eólica e solar, é necessário que haja expansão da hidroelétrica, bioenergia, geotérmica e solar concentrada mas, em conjunto, estas fontes são apenas responsáveis por 11 por cento da capacidade de expansão das renováveis em todo o mundo no período de análise da AIE. Os custos relativamente elevados, a falta de suporte regulatório e a remuneração limitada são fatores de desencorajamento.

Aquecimento

Desde o início de 2020 que o aquecimento proveniente de fontes renováveis beneficia direta ou indiretamente de desenvolvimentos regulatórios, sobretudo na Europa. Ao abrigo das atuais políticas, o consumo de aquecimento de origem renovável, excluindo os usos tradicionais da biomassa, deverá aumentar cerca de um quarto no período 2021-2026. Os combustíveis fósseis deverão continuar a responder a muita da procura de aquecimento, levando previsivelmente a um aumento de 5 por cento das emissões de CO2 associadas a esta necessidade. A falta de incentivos regulamentares e financeiros ao uso de renováveis neste setor não permite um crescimento mais acelerado. Globalmente, mais de um terço do consumo de energia para aquecimento não é abrangida por nenhum incentivo financeiro para renováveis, e mais de metade não está sujeito a medidas regulatórias relacionadas com renováveis. A natureza fragmentada destes mercados do aquecimento e as características locais da procura explicam, em parte, a limitação em termos de políticas.

O problema do aumento dos preços

Os custos de matérias-primas, da energia e transporte têm feito aumentar o preço dos módulos de solar fotovoltaico, das turbinas eólicas e do biocombustível em todo o mundo. Desde o início de 2020, o preço dos painéis de polisilicone mais do que quadruplicou, o aço aumentou 50 por cento, o alumínio 80 por cento, o cobre 60 por cento e as tarifas de carga aumentaram seis vezes. Cerca de 100 GW de capacidade já contratada pode ter a sua implementação atrasada pelo aumento dos preços. Até agora, os fabricantes de equipamento, instaladores e promotores estão a absorver o aumento de custos, com as empresas mais pequenas a ficarem mais expostas.

Não obstante, os preços mais elevados do carvão e gás natural também fizeram aumentar a competitividade da eólica e solar fotovoltaica.

Nos biocombustíveis, o aumento dos preços abrandou o ritmo de crescimento em mais de três pontos percentuais em 2021, com variações diversas, consoante o país.

As renováveis fazem caminho em setores de difícil descarbonização

Um aspeto positivo é a penetração das renováveis em setores de difícil descarbonização, que está lentamente a emergir. Os projetos associados ao hidrogénio podem alavancar 18 GW de capacidade adicional eólica e solar fotovoltaica entre 2021 e 2026.

A procura de combustível sustentável para a aviação deve aumentar de dois para seis biliões de litros em 2026, de acordo com as previsões mais otimistas da agência, mas o sucesso dos biocombustíveis dependerá das políticas nos EUA, Europa e, potencialmente, China.

Em todo o caso, é necessário que as renováveis cresçam acima das projeções da agência para assegurar a neutralidade em 2050. O aumento de capacidade anual terá de ser 80 por cento superior, tendo em conta os números que a própria agência já traçara para se atingir a neutralidade carbónica em 2050. Para tal, os governos precisam não só de enfrentar os desafios atuais como de aumentar a ambição no uso de todas as fontes renováveis.

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