Os custos humanos e ambientais de os EUA serem atualmente o maior produtor mundial de petróleo

O geofísico Americano Marion King Hubbert (1903-1989), investigador nos Laboratórios da Shell em Houston, no Texas, propôs, em 1956, que em determinada área geográfica ou em todo o planeta a taxa de produção de petróleo tende a seguir uma curva em forma de sino e que o máximo desta curva, chamado peak oil, se pode determinar a partir das taxas de descoberta de novas reservas, de produção e de acumulação da produção. Aliás, é um tipo de curva comum a todos os recursos naturais não-renováveis sujeitos a uma procura aproximadamente contínua. Hubbert previu que a produção de petróleo nos EUA iria atingir o seu pico em 1969 e efetivamente atingiu-se o máximo de 10 milhões de barris por dia em 1970. Depois, conforme previsto, a produção decresceu até valores próximos de 5 milhões nos finais da década de 2000, mas começou a subir no início da década de 2010 para atingir um novo máximo de 12 milhões de barris diários em 2019. A previsão do pico de Hubbert dos EUA foi errónea devido à nova tecnologia americana do fracking ou fraturamento hidráulico do petróleo de xisto, conforme mostra a figura.

Normalmente, o petróleo e o gás natural, dado serem fluidos e devido às altas pressões e temperaturas no interior da litosfera, migram das rochas de origem até serem aprisionados em bolsas debaixo de rochas impermeáveis e estáveis, onde constituem reservatórios facilmente exploráveis. Porém, quando são impedidos de migrar mantêm-se presos nas fissuras e fraturas da rocha-mãe. O fraturamento hidráulico permite a extração do petróleo e do gás natural destas rochas, por meio da injeção de água, a pressão e temperatura elevadas, com um propante e com vários produtos químicos.

Durante cerca de quatro anos, de 2010 a 2014, com os preços de petróleo próximos dos $ 100 dólares, a produção de petróleo de xisto cresceu vertiginosamente. A Arábia Saudita e posteriormente a OPEP tentaram impedir a ascensão da produção americana aumentando a sua produção em 2014, o que baixou os preços do petróleo para $36 dólares em 2016. Desde então, como o preço tem oscilado próximo dos $50 dólares, a produção do petróleo de xisto nos EUA voltou a aumentar e atingiu o referido máximo em 2019.

Qual o preço humano e ambiental da nova tecnologia americana e da resultante hegemonia americana na produção de petróleo? O fraturamento hidráulico introduz produtos químicos tóxicos no ar e nos recursos hídricos subterrâneos próximos e nas águas residuais do processo de exploração. Impactos sobre a saúde humana dos residentes nas regiões vizinhas dos poços e nos trabalhadores começaram a ser identificados, embora se desconheçam ainda os efeitos cumulativos de longo prazo. (...)

Artigo completo da Indústria e Ambiente nº120 jan/fev 2020

Filipe Duarte Santos

Autor da coluna Alterações Climáticas / Presidente do CNADS

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