Como vai ser a reconfiguração energética pós-covid?

por Cátia Vilaça

A mudança de hábitos repentina a que a pandemia forçou o mundo teve consequências imediatas no consumo de energia. Com os transportes a parar, o petróleo afundou-se numa crise impensável até há uns meses. A energia de fonte renovável foi a única a demonstrar resiliência durante este período, o que pode fazer desta crise um verdadeiro ponto de viragem.

O momento de excecionalidade levou a Agência Internacional de Energia a atualizar a sua avaliação do panorama energético, de modo a incluir análises em tempo real dos acontecimentos até ao final de abril de 2020 e apontar possíveis rumos para o resto do ano.

Em face de uma incerteza sem precedentes, a análise aqui contida não só apresenta um possível rumo para o uso da energia e a evolução das emissões em 2020 como destaca os principais fatores que podem levar a diferentes resultados.

Como consequência dos esforços para abrandar a disseminação do vírus, o share de energia exposto a medidas de contenção passou de 5 por cento a meio de março para 50 por cento um mês depois.

Além do impacto imediato na saúde, a atual crise tem grandes implicações nas economias, no uso de energia e nas emissões de CO2. A análise feita pela Agência a meio de abril revelava que os países com medidas de isolamento total experimentavam um declínio médio de 25 por cento na procura semanal de energia e os países em isolamento parcial um declínio de 18 por cento. Os dados coligidos diariamente para 30 países até 14 de abril, que representam mais de dois terços da procura global de energia, demonstram que a depressão na procura depende da duração e severidade do isolamento.

A procura global de energia decaiu 3,8 por cento no primeiro trimestre de 2020, com a maior parte do impacto a fazer-se sentir em março, com o reforço das medidas de isolamento.

De uma forma geral, estima-se que, durante o isolamento, as economias sofram um declínio de 20 a 40 por cento, dependendo dos setores mais afetados e da severidade das medidas. O PIB global deverá cair quase 2 por cento por cada mês de medidas de contenção.

Se o impacto direto no PIB e no uso de energia depende da duração do confinamento, o impacto indireto da crise será determinado pela forma da recuperação. Algumas atividades serão apenas adiadas, como as reparações em casa, mas setores como o turismo sofrerão um impacto de longo prazo. Há atividades que podem nunca chegar a retomar os níveis pré-crise.

A recuperação será afetada, antes de mais, pela evolução do panorama sanitário, como o possível surgimento e dimensão de uma segunda vaga da pandemia. Também será, obviamente, condicionada pela dimensão e conceção das políticas macroeconómicas de resposta, e os governos estão a responder com pacotes de estímulo sem precedentes. Apesar desta ambição, tudo leva a crer que a recuperação será gradual. Mesmo que os períodos de confinamento sejam limitados, 2020 será o ano da mais profunda recessão pós-guerra, e mesmo 2021 terá uma atividade económica possivelmente muito inferior à de 2019, segundo as previsões apresentadas nesta análise.

O impacto deste declínio económico na atividade energética será fortemente assimétrico e depende de padrões específicos de uso de energia. Os usos residenciais não serão afetados e poderão até ser mais pronunciados, um cenário previsível a partir do momento em que o trabalho, as refeições e o lazer se fazem a partir de casa para uma boa parte das famílias. Outros, como os da aviação, colapsaram muito mais depressa do que o PIB.

Para chegar aos dados compilados neste relatório, os analistas quantificaram os impactos na energia de uma recessão global causada por restrições de vários meses, sejam elas sociais, económicas ou de mobilidade. Mas há vários cenários possíveis (...)

Artigo completo na Indústria e Ambiente nº122, maio/jun 2020

Newsletter Indústria e Ambiente

Receba quinzenalmente, de forma gratuita, todas as novidades e eventos sobre Engenharia e Gestão do Ambiente.


Ao subscrever a newsletter noticiosa, está também a aceitar receber um máximo de 6 newsletters publicitárias por ano. Esta é a forma de financiarmos este serviço.