Aqua Experience promove uso eficiente da água

A eficiência hídrica está cada vez mais relacionada com a sua correspondente energética. Uma não é alcançada sem a outra. Conferência organizada pela ADENE debateu o tema e apresentou plataforma digital.

Um novo portal digital é a mais recente ferramenta digital para a sensibilização de diferentes públicos para o uso eficiente da água.

Fruto de uma parceria entre a ADENE-Agência para a Energia e a EPAL (Empresa Portuguesa de Águas Livres), a plataforma foi apresentada no âmbito da Conferência Aqua eXperience, que se realizou a 14 de Dezembro no auditório do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa.

Financiado pelo Fundo Ambiental do Ministério do Ambiente no quadro da Estratégia Nacional de Educação Ambiental (ENEA 2020), o Aqua eXperience conta já com sete parceiros institucionais. Pretende promover o uso eficiente da água e a relação entre os dois recursos, incentivando a mudança de comportamentos dos utilizadores em meios urbanos, em particular nos edifícios.

O portal digital está desenhado para ser uma plataforma agregadora onde o usuário pode encontrar informação temática, uma descodificação de conceitos e termos associados ao tema da água e a sua relação com a energia, soluções inovadoras de eficiência hídrica e ainda um espaço de debate e de encontro entre stakeholders e utilizadores.

A Conferência realizada no LNEC apresentou um programa focado nas temáticas da eficiência e nas sinergias possíveis entre água e energia.

Carlos Martins, secretário de Estado do Ambiente discursou na abertura do evento avisando “que não podemos dar por adquiridas as últimas três décadas de sucesso ao nível da universalização do serviço de abastecimento, das conquistas no sistema de saneamento e do sucesso nas classificações balneares.”

“Estas coisas levam muito tempo a construir e muito pouco a destruir. A questão da sustentabilidade, seja ela técnica, económica ou social, é algo que deve estar presente naquilo que são os desafios de futuro, entre eles o tema da eficiência hídrica”, referiu o governante.

Carlos Martins mostrou-se preocupado com o uso pouco racional da água na agricultura e com as perdas nas redes: “A facilidade com que acedemos à água e o seu baixíssimo custo faz com que a maior parte dos agricultores ainda não tenha uma perceção clara do valor do recurso, pese embora este período de seca os penalize. Ao nível do abastecimento público mantenho um nível de preocupação elevado em relação às perdas. Há perdas físicas, mas talvez as maiores perdas sejam comerciais e de falta de capacidade das nossas entidades gestoras para gerirem comercialmente a sua atividade.”

“Uma outra área onde ainda somos muito ineficientes é na reutilização das águas residuais tratadas. Esta água é muitas vezes de melhor qualidade do que a que temos nas nossas albufeiras, mas as nossas mentes ainda não incorporaram essa verdade. Até Junho vamos criar uma estratégia nacional para a reutilização das águas residuais tratadas, e em paralelo, uma legislação que dê confiança aos atores no sentido de sabermos exatamente que parâmetros devem ser validados e que limites devem ser observados. Mas também vamos avançar com planos de ação concreta para as entidades que tenham a gestão das 50 maiores ETAR, que representam cerca de 80% dos caudais tratados. Se agirmos nestas 50 seguramente teremos uma grande probabilidade de sucesso. Serão dados alguns incentivos para investimentos complementares na tentativa de valorizar 15 a 20% desses efluentes”, informou Carlos Martins.

Eficiência na procura e na oferta

Um painel moderado por Jaime Melo Batista, coordenador do Lis-Water, Centro Internacional de Lisboa para a Água, debateu o tema “assegurar a eficiência na oferta, incentivar a eficiência na procura: duplo desafio na gestão, regulação e serviços de água”. Participaram Fernanda Gomes, Margarida Monte e João Nuno Mendes.

Fernanda Gomes, chefe de Divisão, Planeamento e Gestão da Água na Agência Portuguesa do Ambiente (APA), salientou o papel fundamental da eficiência hídrica e a necessidade de gerir equilíbrios entre a procura e a oferta, bem como a redução de perdas, valorização das novas tecnologias e o seu papel no uso eficiente da água.

“Temos que avaliar se há necessidade de mais albufeiras ou de ir captar água de outras origens, caso das águas residuais. Este período de seca foi um exemplo dessa necessidade. As nossas reservas de água baixaram muito, houve necessidade de fazer uma gestão muito rigorosa do uso e daqui para frente temos que admitir outras soluções em termos de reservas. Neste contexto é fundamental o ‘nexus água-energia’, pois a poupança de água favorece a poupança de energia”, referiu a oradora.

Margarida Monte, do departamento de engenharia da ERSAR (Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos), referiu na sua intervenção três fatores-chave no caminho da eficiência energética, a saber: inovação; capacitação das entidades gestoras; educação do consumidor.

“Hoje dispomos de sistemas de telegestão avançada e mesmo em termos de equipamentos domésticos se tem registado essa evolução tecnológica no sentido de alcançar maiores níveis de eficiência. Podemos também inovar por via da gestão e do planeamento, as entidades podem agora redesenhar os seus serviços no sentido de aumentar a eficiência”, referiu.

João Nuno Mendes, presidente da AdP (Águas de Portugal) defendeu a consciência ambiental como uma fator essencial ao desenvolvimento e assinalou o momento difícil que o setor da água tem atravessado.

“O nosso setor é o primeiro consumidor de energia elétrica do país, 4% do consumo elétrica nacional. No atual momento não podemos fazer poupanças, temos as quotas das albufeiras no seu ponto mais baixo e enfrentamos o aumento correspondente dos custos de manutenção”, declarou o presidente da AdP.

José Sardinha, presidente da EPAL, e Maria João Coelho, vice-Presidente da Adene trouxeram à conferência a temática da alavancagem da eficiência hídrica no setor urbano e a importância da educação e da capacitação para a mudança de comportamentos. O presidente da EPAL elencou algumas das ações patrocinadas pela empresa que dirige, nomeadamente o lançamento do Laboratório da Água para crianças.

“Estão programadas ações de sensibilização em estabelecimentos hoteleiros, restauração, centros de dia e escolas para identificar e partilhar boas práticas, incentivando ao consumo de água canalizada, um conjunto de ações ambientais dirigidas para as famílias e protocolos com organizações não-governamentais na área do ambiente para cooperação em projetos de educação e sensibilização”, informou o gestor.

Nexus água-energia

A vice-presidente da ADENE, Maria João Coelho, alertou para os desafios que se colocam nos setores da água e da energia.

“Temos que promover eficiência nos consumos de água e de energia e se o conseguirmos fazer de uma forma conjugada conseguimos também poupanças mais significativas. Não há captação, tratamento e distribuição de água sem energia, mas também não haverá energia sem água. Há, de facto, uma interdependência destes dois recursos e há que saber utilizá-los bem e de forma eficiente e encontrar oportunidades nesta ligação, nomeadamente ao nível das infraestruturas, na inovação e na aprendizagem”, declarou.  

Maria João Coelho invocou a necessidade de investir mais na reutilização das águas residuais tratadas (citou o caso de Chipre que já o faz com 90% da água captada por essa via enquanto em Portugal essa percentagem é de apenas 0,1%) e também no setor edificado, onde reside uma margem de 30% de poupança hídrica e energética.

No encerramento da conferência Aqua eXperience intervieram Carlos Pina, Presidente do LNEC, que valorizou o trabalho que a entidade que dirige tem produzido desde há muito tempo na área da eficiência hídrica e energética”, e o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, que deu créditos à estratégia traçada para a gestão da água, nomeadamente através do Fundo Ambiental.

“A eficiência por si só não resolve o problema, mas é essencial”, disse o ministro que fez questão de referir que “a água é a mais barata das coisas que temos em casa.”

“Este é o tempo para falar de eficiência hídrica. E quanto mais transparentes forem os mecanismos de gestão destes sistemas, quanto mais informação dermos às pessoas sobre o que está a acontecer, melhor perceção lhe daremos dos custos que estão associados”, acrescentou João Matos Fernandes.

No período anterior à conferência realizou-se também no LNEC, o Bootcamp Aqua eXperience, uma competição de empreendedorismo e inovação para a eficiência hídrica, envolvendo a participação de uma centena de alunos do ensino secundários provenientes de escolas do distrito de Lisboa.

Agregar vontades

Em declarações à “Indústria e Ambiente”, Maria João Coelho, vice-presidente da Adene, explicou que a agência está agora a procurar parceiros institucionais que se juntem aos 7 já agregados ao novo portal (Ersar, AdP, PPA, LNEC, APDA, ANQIP e Lis-Water).

“Na verdade, a ambição que temos é que seja o início de algumas iniciativas que nos parecem relevantes para a mudança de comportamentos e para um uso mais eficiente da água no país. Desenvolvemos um jogo app, uma calculadora da água, um guia digital de promoção da eficiência hídrica no edificado urbano, ou seja, ferramentas digitais adaptadas a diferentes gerações e idades. O portal Aqua eXperience é fundamental nesta estratégia e a partir daqui queremos que ele perdure no tempo e que vá agregando parceiros e iniciativas”, referiu a vice-presidente da Adene.

Em relação aos projetos da ADENE apresentados em Fevereiro, o Poupa Energia foi lançada há cerca de um mês e conta já com 25 mil utilizadores e registou cerca de 33 mil simulações online de tarifários de energia, o Centro de Informação para a Energia, que pretende promover a literacia energética no país está em curso, tem um portal ainda em desenvolvimento, e o Observatório da Energia, destinado a um público-alvo mais especializado (investigadores, peritos e agentes do setor), está igualmente a ser montado e tem data de nascimento para os primeiros meses de 2018.

Texto e fotos por Carlos Alberto Costa

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