Zero para o ar, zero para a água, zero para resíduo

O objetivo de atingir a “emissão zero” é uma oportunidade tecnológica que, evidentemente, deveremos ponderar de forma equilibrada, avaliando o respetivo custo-benefício. Não obstante, a emissão zero poderá ser insuficiente se desconectada de toda a cadeia de valor, desde os inputs para produção até ao desmantelamento final. Com efeito, do ponto de vista da sustentabilidade ambiental, importa considerar todo o ciclo de vida da unidade funcional. Essa abordagem holística permite obter um conhecimento útil para a decisão, pois não convém chegarmos ao ponto em que uma emissão zero associada à existência de um determinado produto é conseguida à custa de emissões primárias para o ar e água, ou pelo consumo significativo de recursos não renováveis e produção de resíduos.

No domínio da mobilidade elétrica, a fase de produção continua a ser o principal sorvedouro, nomeadamente perante os recursos necessários para a produção de unidades de armazenamento de energia. Verifica-se, por isso, um enorme esforço de investigação nesse domínio e é expectável que os próximos anos tragam novidades para o mercado. Por outro lado, convém não idolatrar a eletrificação, por antecipação, sem sabermos como é conseguida. É preciso conhecer a origem das fontes energéticas em cada país e Portugal está bem posicionado, entre a França cuja produção de eletricidade é baseada no nuclear, a Noruega assente na hídrica ou a dependência externa da Europa central. Ainda assim, é preciso reter que, a médio prazo, a energia solar virá diversificar a oferta e comprovará que é viável em pequenos veículos urbanos e autocarros.

A fácil disponibilidade de carregamento tem sido um elemento crucial para alavancar o desafio da mobilidade elétrica e fazê-lo avançar. No Reino Unido, existem propostas legislativas em discussão para, sempre que possível, as novas edificações possuírem pontos para esse efeito. A mesma disponibilidade de acessos se procurará fazer em novos postos de iluminação pública, para além de taxar, de forma diferenciada, o carregamento efetuado nas horas de ponta. Em Portugal este assunto ainda precisa de fazer um caminho, mas terá de ser rapidamente percorrido para acomodar a procura crescente.

Um outro elemento central da política pública de apoio à mobilidade (mas não só) são impostos justos e equitativos. Em consequência, esperamos que os resultados do estudo que está ser desenvolvido pelo Governo para a revitalização do imposto para a descarbonização atinja resultados práticos. Como disse o colega Alfredo Marvão Pereira numa recente entrevista “...o atual é um imposto de magnitude insuficiente, de abrangência desajustada, de duvidosa transparência e que ignora, por completo, a questão da reciclagem das suas receitas”.

A modernização das cidades e o desenho de novos espaços urbanos requerem novas perspetivas para a mobilidade, garantindo-se liderança contra táticas económicas erradas, encorajamento ao uso de tecnologia e a promoção de estratégias ambientais e sociais com visão local e global. Temos a esperança que Portugal singre nesse domínio estratégico para a sua afirmação internacional. Um país pequeno como o nosso tem que ser bom em tudo o que faz.

António Guerreiro de Brito

Membro do Conselho Editorial / Presidente do Instituto Superior de Agronomia

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