O futuro da água faz-se com melhor gestão

  • 28 setembro 2023, quinta-feira
  • Água

A Associação portuguesa dos Recursos Hídricos (APRH) levou a cabo, esta quarta-feira, a conferência “Água – Que Futuro?”, no Porto. Inserido na programação da feira EnerH2O, a decorrer na Exponor, o encontro juntou investigadores, consultores e entidades públicas.

Coube ao vice-presidente da APA, José Pimenta Machado, dar o mote à sessão (ainda que à distância), com alguns números que justificam a preocupação relativamente ao tema. Um desses dados é a seca, evidente e estrutural a sul do Tejo, a agudizar-se desde o ano 2000 (dos 10 anos mais secos registados, seis ocorreram após 2000). Em termos globais, o cenário até é melhor do que no ano passado – 46 % do território está em seca severa / extrema, face a 100 % no ano anterior. Contudo, a situação no Alentejo e no Algarve é de enorme criticidade, com 116 hm3 armazenados nas albufeiras da região para um consumo anual de 110. No Alentejo e Algarve, a situação piorou face a 2022.

Para a enfrentar, urge medir, poupar e adaptar, a fórmula repetida por Pimenta Machado e pode ser traduzida por uma melhor gestão na agricultura e no setor urbano e no recurso a novas fontes de água (recorde-se que o Decreto-Lei que regulamenta a produção e uso de Água para Reutilização está publicado desde 2019), com o resto do país a seguir os passos que o Algarve está a dar em matéria de reutilização.

Estas preocupações seriam secundadas por Joaquim Poças Martins, que chamou a atenção para o muito ainda por fazer. “A escassez gere-se, a abundância usufrui-se”, resumiu o docente e consultor, para lembrar que 90 % dos consumos não são medidos, e que a esmagadora maioria das Entidades Gestoras apresenta perdas superiores a 20 % “e não acontece nada”.

Para Poças Martins, não estamos a usar todos os trunfos de que dispomos. Usamos a água da chuva, mas teremos cada vez menos e temos de saber armazená-la para quando precisarmos – a este propósito, também o Presidente da Águas do Norte, José Machado do Vale, instou à criação de redes de separação entre águas pluviais e águas de esgotos, que permitam não desperdiçar a água da chuva em meio urbano.

Poças Martins criticou ainda a solução de transvases que tem vindo a ser apontada por alguns setores. Reconhecendo a importância das barragens, para o antigo Secretário de Estado do Ambiente e do Consumidor a prioridade é geri-las melhor, antes de avançar com soluções que, além de dispendiosas, foram pensadas sem se perguntar a quem gere as bacias do norte “se acha que tem água a mais”.

A água residual é outro recurso que podia ser mais aproveitado – e Portugal produz o equivalente ao Alqueva – se o custo face à água “virgem” não fosse desmobilizador.

A conferência contou ainda com a intervenção de Jean-Yves Stenuick, que partilhou as preocupações da Aqua Publica Europea (associação de operadores públicos) relativamente ao acesso equitativo a água de qualidade e a dificuldade que muitas famílias da União Europeia enfrentam nesta matéria, sugerindo medidas fiscais que vão além da pressão tarifária sobre as famílias e responsabilizem os poluidores de forma mais robusta.

A investigadora do LNEC Helena Alegre fez um ponto de situação do projeto B-WaterSmart, que através de seis Living Labs (Lisboa é um deles) está a criar soluções para enfrentar os desafios associados à água em zonas costeiras.

O antigo presidente da ERSAR Jaime Melo Baptista, atualmente a liderar o LIS-Water, faria um enquadramento do PENSAARP, cuja aprovação por parte do Conselho de Ministros se prevê para breve. São 70 medidas para um conjunto de serviços que se querem mais eficientes, eficazes e sustentáveis, e que sejam motor de resiliência.

Vera Eiró, presidente do Conselho de Administração da ERSAR, encerraria as comunicações com uma comunicação transmitida em vídeo a apelar a uma melhor e mais rigorosa gestão para enfrentar a seca sem escassez, e a um aumento da profissionalização das Entidades Gestores, capaz de conduzir a decisões mais técnicas e menos políticas.

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