Regadio coletivo de Alqueva contribui para colapso da biodiversidade

  • 25 maio 2022, quarta-feira
  • Água

A associação ambientalista Zero alertou que o regadio coletivo de Alqueva tem contribuído para o “colapso” da biodiversidade, com o desaparecimento das populações da espécie ameaçada da flora ‘Linaria ricardoi’ e a destruição de charcos temporários mediterrânicos.

“A biodiversidade na área de influência do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA) regista claros sinais de colapso, um desastre pré-anunciado mas que foi, e continua a ser, desvalorizado nos processos de Avaliação de Impacte Ambiental e na própria gestão do regadio”, disse a associação.

A associação considera que, “dada a extensão dos danos ambientais causados e o conhecimento prévio destes impactes dificilmente mitigáveis”, pode estar-se perante um “ecocídio”.

A Linária-dos-olivais (‘Linaria ricardoi’) é uma espécie protegida e listada como prioritária, tendo a entidade gestora do EFMA, a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva, ficado incumbida de adotar medidas para mitigar os impactos, referiu a Zero.

A associação adiantou que a monitorização está a ser feita, mas “não estão a ser implementadas medidas para a efetiva proteção da espécie, e os sistemas agrícolas potenciados por Alqueva têm-se mostrado incompatíveis com a preservação da espécie”.

A Zero disse que, segundo os relatórios de monitorização, em três anos a espécie perdeu mais de 800 hectares do seu habitat na área monitorizada – os perímetros de rega de Pisão, Alvito-Pisão, Ferreira e Valbom, Alfundão e Beringel-Beja.

Os charcos temporários mediterrânicos “são outro exemplo pela negativa dos impactos do regadio de Alqueva sobre a biodiversidade”, afirmou a associação, indicando que foram destruídos total ou parcialmente mais de 20 charcos temporários na área de influência do EFMA, dando lugar a culturas de regadio.

A associação referiu ainda o desaparecimento de habitat para aves estepárias, a destruição de florestas-galerias, a degradação e destruição de montados e a conversão cultural de sistemas agro-silvo-pastoris e a erradicação de vários endemismos ameaçados.

Para a Zero, a “falha da proteção da biodiversidade na área de influência de Alqueva mostra inoperância da legislação de avaliação de impacte ambiental”.

“Os programas de monitorização e de conservação, na prática, têm apenas servido para documentar a catástrofe”, sublinhou a associação.

Por outro lado, continuou, “a recusa por parte das entidades competentes em tomar ações concertadas e consequentes para proteger a biodiversidade enquanto bem público, dentro dos quadros legais e regulamentares existentes, é demonstrativo de um favorecimento tácito dos interesses económicos do agronegócio instalado nas regiões do Baixo Alentejo e Alentejo Central”.

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