Empresa que lava tanques de petroleiros produz combustível sustentável

Uma empresa de Setúbal especializada no tratamento de águas contaminadas tratou e descarregou no rio Sado, nos últimos cinco anos, mais de 120 milhões de litros de água limpa, produzindo ao mesmo tempo um combustível sustentável.

No passado era frequente que a lavagem dos tanques desses navios fosse muitas vezes feita, ilegalmente, em alto mar, contaminando a natureza, referiu, em declarações à agência Lusa o diretor-geral da empresa Eco-Oil, Nuno Matos.

A Eco-Oil foi criada há cerca de duas décadas e tem como principal foco receber e tratar águas contaminadas por hidrocarbonetos de navios petroleiros. Para além de beneficiar o ambiente, tratando essas águas, produz o EcoGreen Power, um combustível que o responsável garante ser um fuel sustentável, utilizado na indústria.

“Percebeu-se que as águas podiam ser um valor e não ser tratadas como um resíduo”, salientou o diretor-geral, frisando a importância de se fomentar em Portugal a economia circular.

Ao tratar as águas contaminadas, o fuel que se recupera entra de novo na cadeia de consumo, evitando o uso de um produto virgem, que resulta da extração de petróleo.

Segundo Nuno Matos, tal é crucial para evitar emissões de gases com efeito de estufa e o fuel representa em termos de emissões menos 99,75 por cento do que o combustível que é assim substituído.

“Estamos a evitar a emissão de muitas toneladas de dióxido de carbono, essa é a grande vantagem”, referiu o responsável, salientando que a incineração não pode ser a solução: “A tendência hoje, ao contrário do que acontecia nos anos 1990, é a de que a incineração terá de ser só para o que não se consegue recuperar”.

Nos próximos dez anos, avisou, haverá enormes transformações no tratamento de resíduos industriais e domésticos. Os combustíveis sintéticos do futuro podem ser produzidos através dos resíduos domésticos, disse.

A Eco-Oil já está nesse futuro. Nuno Matos explicou que os navios descarregam na empresa as águas de lavagem, que depois separa o óleo, os materiais como as areias, da água.

“Só 15 por cento do que recebemos é óleo, o resto é água”, disse, explicando que essa água, cujo tratamento é sujeito a múltiplas análises e “muito vigiado”, é descarregada no rio.

São feitas “baterias de análises” mensais e trimestrais, há uma monitorização em contínuo e há até outra exigência que o diretor-geral considera desnecessária, que é a análise das águas do rio feitas antes e depois das descargas. “Porque a análise, com descarga e sem descarga, dá sempre igual”.

A empresa, exemplificou, convive com as comunidades de pescadores e de mariscadores, do estuário do Sado.

A empresa tem uma capacidade instalada para tratar 370 mil toneladas de “resíduos” (é a maior do país) mas não há em Portugal tanta matéria-prima, processando cerca de 70 mil toneladas por ano, uma parte substancial vinda de outros países.

E o EcoGreen Power foi o primeiro combustível a nível mundial a receber a certificação ISCC Plus, que comprova a redução de 99,75 por cento de CO2 no seu processo de produção.

A propósito do Dia Mundial da Água, a empresa de Setúbal salientou que a indústria portuguesa desperdiça 20 por cento da água que utiliza, ao mesmo tempo que reforça a importância da água e a necessidade de preservar os recursos hídricos do planeta.

Nuno Matos deixou outro conselho. O país tem pouca indústria, o que pode não ser o mais propício para criar uma economia circular, em que o que é resíduos para uns pode ser matéria-prima para outros. Mas, acrescenta, na indústria portuguesa há “muito uma lógica individual”, os empresários são “muito fechados”, não pensando na circularidade.

“Se todos fizerem a sua parte é possível criar uma economia circular mais forte”, usando menos recursos naturais e uma maior partilha de recursos. E para criar essa economia Nuno Matos destacou ainda a necessidade de desclassificar resíduos, exemplificando com o plástico, que se hoje fosse classificado como um resíduo estaria todo a ser triturado e queimado.

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