Ultrapassar paradoxos e ganhar sustentabilidade

Em 1865, já no rescaldo da revolução industrial, William Stanley Jevons publicou um estudo designado por “A Questão do Carvão”. Afirmava-se, nesse estudo, que o aumento da eficiência energética no uso do carvão como combustível permitiria uma redução de custos de produção e, portanto, teria como resultado final incentivar a aplicação de energia e promover o consumo de mais carvão. Este efeito é, em síntese, aquilo que hoje se designa como “paradoxo de Jevons”: a noção que uma maior eficiência no uso dos recursos não conduz, garantidamente, ao caminho da sustentabilidade mas, pelo contrário, a um maior gasto de recursos.

Jevons defendia a aplicação de taxas ou o aumento dos preços para amortecer esse efeito. Há, contudo, um problema na argumentação baseada na regulação financeira, porque assume que estamos satisfeitos com o mundo no qual as consequências do paradoxo se refletem. Ora não é bem assim, nem sequer é uma questão de satisfação, mas de inevitabilidade. O mundo está numa inexorável transição. “Daqui a 15 anos mais 3 mil milhões de indivíduos irão pertencer à classe média, quando hoje são cerca de 2 mil milhões” afirma um estudo da consultora McKinsey editado em 2011 sobre o uso dos recursos - energia, materiais, água e alimento. Por isso, para satisfazer a ambição (legítima) desses potenciais consumidores ter-se-á, certamente, de repartir recursos e de adotar uma política de proteção dos existentes. Contudo, atingiremos os objetivos apenas dessa forma?

Provavelmente não. Não serão suficientes os ganhos de eficiência para assegurar o equilíbrio entre recursos e estilos de vida, pelo que também o valor da eficácia será importante. Nessa base, será que estamos a usar os elementos certos para os fins em vista ou teremos de diversificar o tipo de matérias primas e encontrar outros processos para assegurar a satisfação de necessidades? 

A conclusão mais importante que se retira do “paradoxo de Jevons” é que precisamos de pensar de forma diferente para ultrapassar as atuais limitações. Nesse sentido, de forma a encontrar processos alternativos e novos recursos, temos de ser firmes no encorajamento às politicas públicas de investigação. A mobilização do investimento (nacional e da comunidade europeia) para programas de investigação em consórcio entre empresas nacionais e centros de investigação será, certamente, decisiva.

A eficiência para garantir a competitividade passa, por conseguinte, pela inovação. É a inovação que garantirá o aumento do leque de recursos disponíveis para assegurar as necessidades humanas e a qualidade de vida, fomentando a mudança e reduzindo o risco de esgotamento de recursos naturais acessíveis. Em alternativa, é verdade, poderemos caminhar da “ambição” para a “suficiência” ou “frugalidade”, mas essa é uma questão ética que ficará melhor numa outra discussão.

António Guerreiro de Brito

Membro do Conselho Editorial / Presidente do Instituto Superior de Agronomia

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