Tratamento anaeróbio de resíduos orgânicos com aproveitamento energético de biogás - um projeto piloto em comunidades rurais de São Tomé

A gestão de resíduos em regiões insulares, sobretudo em pequenos arquipélagos, é um dos desafios atuais, motivado pelas preocupações em preservar a qualidade do ambiente e em cumprir as exigências internacionais. Simultaneamente, importa entender que o ambiente físico confinado de uma ilha levanta inúmeros desafios, mas também oportunidades.

Em São Tomé, os setores de resíduos e energia apresentam-se deficitários, fruto dos limitados recursos disponíveis. A gestão dos resíduos, descentralizada e sob responsabilidade das Câmaras Distritais, não tem conseguido promover uma recolha efetiva: 25 por cento dos resíduos são depositados em lixeiras a céu aberto e o remanescente em vazadouros ou queimado de forma arbitrária. Igualmente, o setor da energia assenta numa rede elétrica deficitária que serve apenas 48,5 por cento da população e, destes, cerca de 33 por cento em meio rural.

O projeto Bioenergia em São Tomé – Aproveitamento Energético de Biogás, parceria entre a Ecovisão e a Direção Geral do Ambiente de São Tomé e Príncipe desde dezembro de 2014, surge neste contexto para testar a aplicabilidade da digestão anaeróbia ao tratamento dos resíduos orgânicos dos agregados familiares (AF).

A recolha de dados junto das comunidades rurais constituiu-se fundamental para a projeção de cenários de execução. Inquéritos e campanhas de pesagem mostraram que os resíduos orgânicos domésticos e chorumes animais, atualmente depostos indiferenciadamente na envolvente da comunidade, serão os principais substratos para o processo. Verificou-se também que 89 por cento dos AF recorrem a lenha para cozinhar, precursores da deflorestação.

Assim, com estes elementos, foram projetados e instalados cinco digestores anaeróbios em comunidades rurais dos distritos de Mé-Zóchi, Cantagalo e Lembá, na zona tampão do Parque Natural do Obô. O biogás gerado está a ser aproveitado em fogões adaptados fornecidos às famílias, abrindo caminho para colmatar as lacunas ao nível do setor energético. As soluções desenhadas para cada comunidade, suportadas no processo de digestão anaeróbia, contribuem para a redução da poluição e, ao mesmo tempo, valorização dos resíduos, com vista a:

  • combater a degradação ambiental acelerada, resultado da deposição indiferenciada e incorreta de resíduos em locais inapropriados com consequências ao nível da contaminação dos solos, água e poluição do ar;
  • promover a mitigação das alterações climáticas pelo uso de biogás, uma fonte de energia renovável;
  • combater a desflorestação

Sendo um projeto-piloto, os dados sistematizados de dimensionamento, arranque e operação dos biodigestores permitirão a replicação da tecnologia pelas demais comunidades para que todos possam beneficiar da correta gestão dos seus resíduos e, complementarmente, da energia produzida a partir do biogás.

Este projeto, financiado pelo Fundo Português de Carbono, está a ser desenvolvido com o apoio da Cooperação Portuguesa, através do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua e da Agência Portuguesa de Ambiente.

por Débora Carneiro, Ana Justo e Maria João Martins Ecovisão

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