Os objetivos de eficiência energética na indústria

  • 09 outubro 2017, segunda-feira
  • Energia

A eficiência energética é uma das condições necessárias à competitividade da indústria e, como seria de esperar, é um dos eixos de política energética que maior consenso reúne.

Esta convergência é óbvia porque eficiência energética é otimização das opções no âmbito da seleção das formas de energia, e é racionalização do seu consumo, ou seja, a procura permanente da minimização das suas perdas nos processos e nas atividades.

Eficiência energética não deveria ser imposição de tetos ao consumo de energia em termos absolutos; no entanto, é esse o sentido dos objetivos europeus – e também nacionais – no que respeita a este indicador.

O objetivo proposto de 30% de redução no valor do indicador eficiência energética no contexto acima indicado será, no geral, mas, sobretudo, se aplicado às indústrias extrativas e transformadoras, uma medida errada que penalizará a nossa economia, a qual está obrigada a um exigente esforço de convergência.

Este objetivo de redução absoluta de consumos energéticos não deveria ser, em si mesmo, vinculativo no geral e, de modo algum, aplicável à atividade industrial.

Em abono desta visão, registamos a perda de peso do VAB das indústrias transformadoras face ao VAB total das empresas entre 1990 (era de 41%) e 2015, onde significou 24% do total e, ainda, alguma quebra objetiva do VAB deste grupo de indústrias entre 2005 e 2015, certamente devido à crise económica e financeira que ocorreu neste período.


VAB da Indústria Transformadora

Unidades: 106 € e %

Anos

VAB

(preços constantes)

% do VAB total

2005

20.995

23,0

2015

19.239

24,0

Fonte: INE

Por outro lado, o consumo energético total das indústrias extrativa e transformadora, entre 2005 e 2015, desceu de um valor de cerca de 5.500.000 tep para menos de 4.400.000 tep, daí resultando uma progressão claramente positiva do indicador de eficiência energética medida pelo consumo de energia por unidade de VAB.

Recorda-se também a grande alteração qualitativa no “mix” energético da indústria entre 1990 e 2015.

Indústrias Extrativas e Transformadoras

Consumos Energéticos Totais

Unidade: tep

Formas de energia

1990

2015

Variação %

Carvão

657.642

13.657

-98,0

Petróleo e seus derivados

1.381.912

619.176

-55,0

Gás Natural

-

1.097.882

+100,0

Outros gases

34.290

-

-100,0

Eletricidade

935.244

1.317.275

+41,0

Calor

646.914

1.157.002

+79,0

Resíduos e outros renováveis

473.901

155.127

-67,0

TOTAL

4.129.903

4.360.029

+5,6

Fonte: DGEG

É notório o grande contributo do setor industrial para o aumento do peso das renováveis no consumo final de energia, se bem que muito apoiado na grande alteração verificada nas origens da produção de eletricidade.

Em 2015, este contributo foi de quase 33%, superior ao indicador global correspondente que, de acordo com os dados publicados pela DGEG, se cifrou em 28,4%, já próximo do valor comprometido para 2020, que é de 31%.

Portanto, a intensidade energética da indústria medida em unidades de consumo de energia por unidade de VAB e o peso das renováveis nas formas de energia nela consumidas evoluiu consideravelmente e de modo positivo, qualquer que seja o período considerado.

Mas o contributo das indústrias transformadoras para o VAB das empresas mantém-se baixo, inferior a 25% do total e, também como reflexo da crise, o seu valor absoluto ainda não atingiu o que se verificou em 2005, a preços constantes.

Claramente, e apesar de alguns sinais de melhoria, tem de existir no futuro próximo maior atividade nas indústrias transformadora e extrativa, uma vez que estas são a fonte principal da produção de bens transacionáveis.

Haverá, certamente, potencial de crescimento nos setores industriais que, hoje, já estão a contribuir para a melhoria da balança comercial do País; as atividades industriais e de serviços que os novos rumos da industrialização estão a fazer nascer também irão requerer significativas necessidades energéticas.

Temos de nos preparar para condições de maior retoma da economia e, aí, os setores produtores dos referidos bens e serviços transacionáveis, onde se encontram várias indústrias com elevada intensidade energética, verão crescer a sua atividade, e os consumos de energia na indústria sofrerão grandes pressões no sentido do seu aumento.

Com efeito, e citando António Saraiva, Presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, “os efeitos da crise não poderão ser permanentes, e o País tem o direito legítimo de aspirar e de trabalhar para aceder a níveis de atividade económica mais elevados, mesmo que, por esse facto, advenham acréscimos nos seus consumos energéticos”.

O desafio para o conjunto da indústria parece claro: este grande setor da atividade económica tem capacidade e deverá poder aceder a meios que lhe permitam prosseguir com ações de evolução tecnológica e de processos, com reflexos evidentes para a sua eficiência energética global e, assim, criar créditos bastantes para a indispensável expansão económica.

Usar melhor os recursos sempre foi e sempre terá de ser o objetivo da indústria.

Deveremos rejeitar, portanto, limitações administrativas ao consumo energético e prosseguir com o maior empenho com os programas de melhoria da eficiência energética.

Se dessas ações puderem resultar menores consumos de energia, tal será excelente, mas sempre sem prejuízo de objetivos mais amplos de crescimento económico.

Jaime Braga

Engenheiro

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