Monitorização: transformar informação em conhecimento para a decisão

Todos reconhecemos, até à exaustão, que não se pode decidir sobre o que não se conhece e temos uma tendência, quase natural, para nunca estarmos satisfeitos com a dimensão e qualidade de informação ambiental disponível. Neste quadro, se há algo para o que irá contribuir a internet das coisas é na forma como concebemos a monitorização e no seu alcance. Há, aliás, quem use termos mais modernos para designar esse próximo passo, como sejam a produção inteligente ou a internet industrial, sinalizando que vem aí a quarta revolução industrial. Um dos resultados será o desenvolvimento de redes interligadas de obtenção e utilização de dados em toda a cadeia de valor dos produtos ou dimensões ambientais, o que tornará a atividade de monitorização intuitiva e mais acessível a todos os interessados.

O “tricorder” já deveria estar no mercado

Esta revolução na monitorização já tem raízes no passado. Veja-se como a instrumentação e as metodologias evoluíram nos últimos 50 anos, com fortes avanços na microeletrónica, na deteção remota e nos bioindicadores. A verdade é que os desafios que se podem identificar em todas as valências técnicas continuam, ainda, a ser muitos, seja na recolha de informação ou na transmissão, arquivo, análise, processamento e visualização dos dados. Não obstante, como alguém já afirmou, o “tricorder” que víamos ser usado como sensor múltiplo pelo confiável Dr. Leonard McCoy na famosa série Star Trek, já deveria estar no mercado. Noutra vertente, deve ser registado como os limiares de deteção têm vindo a ser, sucessivamente, melhorados. Um bom exemplo é a deteção dos desreguladores endócrinos na água, problema que, em grande parte, tem sido evidenciado devido ao aumento da capacidade de resolução da instrumentação analítica.

Monitorizar. Informar. Decidir.

O que medimos constitui, em regra, o melhor compromisso com os recursos existentes, entre os quais, e bem, os financeiros. Nos últimos anos, por exemplo, muito se falou no colapso do sistema nacional de informação sobre recursos hídricos, frequentemente apontado como uma das joias do setor. Essa preocupação serviu para comprovar como a informação é importante para os utilizadores de recursos naturais e contribuiu para que hoje o sistema esteja, felizmente, restabelecido e operacional. O que sabemos é que a informação sobre processos e sistemas industriais ou o estado dos diversos compartimentos ambientais - água, solo, ecossistemas, ar ambiente e interior, território, etc. - tem um papel fundamental para uma boa decisão e para a definição de estratégias adaptativas de regulação e controlo. Por isso, tão importante como a atividade de monitorizar, é o facto de os resultados chegarem aos interessados. Entre eles estão os que a suportaram financeiramente na expectativa de poder melhorar processos ou poder tomar uma decisão, mas também estão os que o fizeram indiretamente, nomeadamente quando o principal agente responsável é o setor público, ou seja, o cidadão. Na área pública, a acessibilidade aos dados é uma das bases de uma governação transparente que não tem qualquer receio de prestar contas sobre o seu desempenho que é, afinal, aquilo que a monitorização ambiental evidencia. Sim, os novos processos distribuídos de recolha e partilha de dados associados à vaga “monitorização 4.0” serão muito bem vindos!

Uma nota final para o facto de este número da IA [número 97] apresentar uma nova secção sobre empreendedorismo no setor público e privado, a qual alternará com a secção dirigida à atividade de portugueses espalhados pelo mundo, iniciada no número anterior. Procuramos, assim, tornar a IA mais atenta às muitas realidades no domínio do Ambiente, evidenciando a vontade em fazer mais e encorajando a iniciativa dos nossos colegas de profissão.

António Guerreiro de Brito

Membro do Conselho Editorial / Presidente do Instituto Superior de Agronomia

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