Escassez, seca, usos múltiplos e infraestruturas hidráulicas

Abrir uma torneira e saír água é, para nós ocidentais, um dado adquirido. Mas já pensou que em alguns lugares do mundo isto não acontece? Por exemplo, na cidade do Cabo, em África do Sul,  neste momento, cada habitante só dispõe de 50 litros de água por dia. Os portugueses ainda não vivem com água racionada, embora Portugal , segundo dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), publicados em fevereiro, esteja em mais de metade do território em seca severa. Foi este o mote da mesa redonda subordinada ao tema “Escassez, seca, usos múltiplos e infraestruturas hidráulicas”, moderado por Francisco Taveira Pinto, que teve como objectivo uma reflexão sobre como gerir de forma eficiente o recurso vital que a natureza nos dá.

O debate teve lugar no 14º Congresso da Água, organizado pela Associação Portuguesa de Recursos Hídricos (APRH), teve lugar em Évora entre os dias 7 e 9 de março. Subordinado ao tema“ Gestão dos Recursos Hídricos: Novos Desafios”, o congresso visou uma reflexão sobre o futuro dos recursos hídricos em Portugal e no mundo, por forma a garantir a água, com qualidade ecológica, às gerações vindouras.

Alqueva vai regar mais 50 mil hectares até 2022

Pedro Salema, CEO da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva (EDIA), abriu o debate mostrando que a seca não é uma realidade dos dias de hoje mas que é vivida com outra acutilância devido às pressões que existem sobre o recurso água. “Temos mais bocas a beber, mais corpos para lavar e mais culturas para regar.” E é por esta razão que Alqueva é um investimento tão precioso ao assegurar o recurso em anos de maior carência. A barragem, inaugurada em 2002, com uma capacidade de armazenamento de 4.150 milhões de metros cúbicos, já descarregou quatro vezes, entre 2009 e 2013, embora nos últimos três anos o nível da água tenha diminuído. “Ainda assim, mesmo se não chovesse nada este ano, Alqueva ainda teria capacidade para abastecer dois a três anos sem problema”, afirmou Pedro Salema. Esta “folga” deve-se a uma gestão cada vez mais eficiente da água, que chega a 120.000 hectares, tendo o governo anunciado, recentemente, um investimento que visa o aumento de 50.000 hectares de área beneficiada. Cerca de 95%  da água do Alqueva é destinada à agricultura e a quantidade de água utilizada por hectar, tem-se mantido constante nos últimos oito anos, na ordem dos 3.000 mil metros cúbicos por hectar.”Esta dotação saudável, deve-se à escolha de culturas com uma relação custo/benefício saudável, em termos de consumo de água, e aos grandes avanços das técnicas de regadio utilizadas”, afirmou Pedro Salema salientando que o conhecimento do uso da água em Alqueva é muito científico.

O Estado deve prioritizar a criação de leis que promovam a reutilização da água

José Roquette, CEO da Herdade do Esporão, declarou que nos últimos seis anos reduziu para um terço o consumo de água no sector vitivinícola, um grande consumidor do recurso, sem que a produção tenha sido afectada. “Adaptar as culturas à quantidade de água disponível e à capacidade de produção do solo é o caminho mais inteligente a trilhar na agricultura”, afirmou José Roquette.No aspecto da água para consumo humano, a reutilização  foi mencionada como uma realidade que o governo deveria considerar prioritária, no sentido de serem criadas leis que promovam a construção de infraestruturas que permitam que a mesma água possa ser utilizada mais do que uma vez no contexto doméstico. Roquette  fala também na dessalinização da água do mar, como plano B, citando o exemplo da vizinha Espanha, que é já o quarto país do mundo em produção de água dessalinizada com cerca de 700 dessalinizadoras.

São precisos mais Alquevas

Verificando-se em Portugal uma tendência para um clima semi-árido, onde chove menos com maior concentração, torna-se fundamental investir  em mais reservatórios e em gerir a água armazenada de forma eficiente. Para isso, a par da tecnologia que permite uma gestão mais precisa, é urgente encarar a água como uma questão de cidadania, sensibilizando a população de que se trata de um recurso finito. “É necessário mudar esta atitude de que alguém há-de fazer com que nunca falte água nas nossas torneiras”, acrescenta Sequeira Ribeiro da Agência Portuguesa do Ambiente que, a par dos outros oradores, defendeu serem precisos mais “Alquevas”.

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