45 por cento dos europeus não aceita perda de biodiversidade em favor do crescimento

Um inquérito do Eurobarómetro feito nos 28 analisou a perceção dos europeus face à biodiversidade.

Comparativamente a 2015, a compreensão do termo “biodiversidade” aumentou, ainda que a maioria não esteja familiarizada ou não saiba o que significa. Esta média tem também em conta significativas disparidades entre os Estados-Membros, já que em seis países (incluindo Portugal), a maioria das pessoas está familiarizada com o conceito e o seu significado, enquanto na Letónia, Eslováquia e Polónia isto apenas se aplica a um quarto das pessoas.
Alterações climáticas percebidas como ameaça

Uma proporção crescente dos cidadãos que responderam ao inquérito identifica as alterações climáticas como motor dos danos causados à biodiversidade, a que se junta a poluição e os desastres causados pelo Homem. Na visão dos inquiridos, este tipo de evento extremo assume mais preponderância do que, por exemplo, o uso intensivo do solo.

Comparativamente a 2015, a percentagem de cidadãos a par da existência da Rede Natura 2000 aumentou em quatro pontos percentuais. Ainda assim, apenas um em cada nove europeus sabe do que se trata – no Reino Unido, a percentagem é especialmente baixa – 4 por cento. Não obstante, a conservação de áreas protegidas é um assunto largamente consensual.

Os europeus são também claros ao colocar a preservação da biodiversidade à frente do desenvolvimento económico – 45 por cento dos inquiridos afirma que os desenvolvimentos que causarem danos ou destruição das áreas protegidas devem ser proibidos, e igual proporção considera esta interferência apenas aceitável quando estão em causa projetos de evidente interesse público e se os danos forem totalmente compensados. Tal como já sucedia em 2015, apenas uma pequena parte dos inquiridos (6 por cento) considera válido colocar o desenvolvimento económico em primeiro lugar.
A perceção dos portugueses

Os dados recolhidos em Portugal vão de encontro à generalidade da Europa. 51 por cento dos inquiridos já ouviu falar de biodiversidade e conhece o significado do conceito. Existe também um amplo consenso sobre a responsabilidade humana em cuidar da natureza (79 por cento concorda totalmente com este pressuposto). No que toca às ameaças à biodiversidade, 77 por cento elege a poluição do ar, solo e água e 76 por cento os desastres causados pelo Homem, como acidentes industriais ou derrames de combustível. A agricultura e desflorestação intensivas, bem como a sobrepesca, apenas levantam o alerta máximo em 46 por cento dos casos, e quanto à conversão de áreas naturais em outros usos (extensão de áreas urbanas, por exemplo), apenas 56 por cento dos inquiridos considera este fator como nível máximo de ameaça.

Curiosamente, quando a questão é sobre as medidas que a União Europeia deve adotar para proteger a biodiversidade, a opção que reúne mais consenso (59 por cento) é a de informar melhor os cidadãos acerca da importância da biodiversidade. Apenas 25 por cento considera que a Europa deve assegurar-se de que os subsídios à agricultura e pescas não causam dano à biodiversidade.

Paula Silva, docente da Universidade Nova de Lisboa e doutorada em Geotecnia, analisa estas respostas tendo por base as preocupações incutidas na Humanidade, mais centradas no crescimento económico e no desenvolvimento económico do que na proteção ambiental e na preocupação com os recursos finitos. Por outro lado, o aumento da população mundial não deixa outra alternativa que a intervenção no solo. Para a docente não se trata, ainda assim, de situações contraditórias mas de eventos que podem ser ultrapassados por atuações controladas. Face à inevitabilidade do crescimento demográfico e do consequente aumento das necessidades societais, Paula Silva defende a adoção de uma "política sustentada eficaz que permita reverter a agressão à biodiversidade". Ainda assim, a docente não se mostra otimista em relação à mudança de atitude, pelo egoísmo que identifica no modo de vida predominante, que privilegia o conforto em detrimento da proteção de recursos e que vive suficientemente distanciado dos processos que ocorrem na natureza para não entender o impacto que a (ainda que mediatizada) extinção de espécies tem nos ecossistemas e na Humanidade. A docente confronta-nos ainda com uma comparação de escala: " ao verificar que as sociedades mais desenvolvidas têm sido ineficazes em entender/ajudar pro-ativamente os seus próprios semelhantes que emigram/fogem na procura de melhores condições de subsistência, afigura-se difícil que o egoísmo societal seja facilmente demovido e que, de forma muito rápida, se comece a pugnar também pela sobrevivência e protecção dos seres vivos de outras espécies!"

Paula Silva reconhece o impacto mediático dos grandes desastres, mas alerta que o risco mais significativo para a biodiversidade "corresponde ao uso do solo, isto é, às políticas e atividades que o Homem desenvolve, em terra, no ar e no mar, e que impactam globalmente e de modo contínuo, os diversos ecossistemas". Para a professora, a chave está no modo de intervenção, que terá de ser sustentado e prever mecanismos de mitigação.

Para uma inversão de trajeto, a docente considera fundamental a consagração na lei de políticas que visem a conservação da natureza, a par da difusão, por parte dos media, da consciência ambiental. Esta consciencialização, defende, deve começar logo pelos mais novos, mais permeáveis à proteção do ambiente e, consequentemente, à biodiversidade.

(Notícia atualizada a 22-05 às 12h37)

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