“It’s a new world, unleash your imagination!”

Não, a voz que proferiu esta frase não está a advogar nenhuma revolução social ou uma política mais libertária. Todos sabem quem é George Tchobanoglous. Revisor das últimas edições e co-autor do livro de ensino da engenharia sanitária mais vendido no mundo, conhecido abreviadamente por Metcalf, entre muitas outras publicações, é dele esta vigorosa declaração em conferência promovida pela IWA em Setembro último, em Atenas. Falou ele sobre os desafios na área da água e das águas residuais e a mudança de paradigma para o século 21. Começou por afirmar que “as águas residuais são uma fonte renovável e recuperável de água potável, recursos e energia”, e terminou com a frase em título.

Separação e valorização de... águas residuais

Este assunto não é novo. Desde o início do século que se registam vozes no sentido de uma reorientação dos sistemas de saneamento para promover a recuperação de recursos. Contudo, é bom constatar que essa perspetiva está a contaminar positivamente o “mainstream” da comunidade técnica e científica e que, para além disso, está a alastrar para as entidades prestadoras de serviços. Qual a consequência tecnológica? É fazer a separação na origem dos recursos presentes nas águas residuais, separando a urina, as águas negras e as águas cinzentas tal como, aliás, já faz o setor dos resíduos em orgânicos e nos diferentes materiais. É um passo difícil, temos de reconhecer, mas possível.

Nessa mesma conferência apresentou-se um trabalho desenvolvido em parceria com a empresa dos serviços de água e saneamento de Hamburgo, no qual se evidencia que a pressão para as atuais iniciativas de separação na origem das águas residuais não provém, ao contrário do que poderíamos pensar, da opinião pública ou da comunicação social. O motor são as políticas governamentais, as autarquias locais e as entidades gestoras que querem utilizar estes sistemas, agora em maior escala, para melhor atingirem objetivos ambientais e ganhos económicos. Assim, referiram-se iniciativas em países do norte da Europa envolvendo cerca de 1500 famílias, um número que já tem algum significado. Estes dados mostram que este conceito pode ser uma solução em vários tipos de edifícios, para além de aglomerados dispersos ou países tropicais como São Tomé e Príncipe, o caso real de separação e valorização de águas residuais na origem que fomos apresentar em Atenas.

É um mundo inteiramente novo, libertem a imaginação!

A necessidade de reabilitação de edifícios e infraestruturas básicas constitui uma ótima oportunidade. Note-se o facto de ter sido indiciado que, entre 2013 e 2015, cerca de 59% dos projetos de novas construções comerciais (hotéis e escritórios) e 34% de edifícios institucionais (escolas e hospitais, por exemplo) na Europa ambicionariam ser classificados como “construção sustentável”, expectativa semelhante nos EUA, Emiratos e outras zonas do globo (Fonte: McGraw Hill Construction, 2013). Por outro lado, as cidades confrontadas com cenários climáticos adversos têm de reduzir a carga orgânica descarregada nos rios que, na estiagem, disponibilizarão uma capacidade de diluição menor. Contudo, a construção sustentável não pode ser apenas arquitetura e materiais apropriados até à porta da casa de banho, onde lá dentro tudo é igual ao costume para terminar numa ETAR compacta ou numa drenagem de quilómetros. Os clichés não servem para definir um edifício, ou uma cidade, como sustentável.

No futuro, será mesmo possível considerar que uma cidade, suponhamos, de 500 mil habitantes, que capta e trata, com grande esforço e o dinheiro dos contribuintes, mais de 4,5x106 m3/ano de água do que aquela que precisamos (beber e preparar as refeições, tomar banho e lavar roupa/loiça) e que rejeita, digamos, cerca de 20 toneladas de fósforo mais 200 de azoto por ano, além de centenas de quilos de compostos persistentes, pode ser classificada como “sustentável”? Apetece repetir: é um mundo inteiramente novo, libertem a imaginação!

Leia-se o artigo de James Workman (2015). Cities takes the lead on mitigation, The Source, 1, pág. 44-47, IWA.

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