Economia (A) Circular

A evolução do consumo e o crescimento global do número de consumidores promovem um caminho incontornável de maior utilização de recursos, o que conduz a contextos de potencial escassez e, por inerência, um aumento dos preços das matérias primas.

Estas tendências são acompanhadas por pressões ambientais, de natureza social (por parte dos consumidores) ou regulamentar (por parte dos agentes políticos), que são influenciadas pelo aumento de fenómenos como as alterações climáticas, que elevam o nível de alarmismo e consciencialização sobre estas matérias.

É neste ponto que pretendo sustentar a tese que partilho: as razões que levam as empresas a realizar investimentos em inovações de cariz ambiental não são aquelas que, na minha opinião, podem ser mais relevantes em contexto empresarial, sendo que tais motivações se refletem no volume e tipologias de investimentos realizados nesta matéria, que apresentam naturais necessidades de evolução.

Ora vejamos: de acordo com o CIS2014 (inquérito comunitário à inovação), publicado em 2016, os principais fatores que contribuíram para empresas com atividades de inovação introduzirem inovações com benefícios ambientais foram:

  1. Os elevados custos de energia, água ou materiais;
  2. A necessidade de melhorar a reputação da empresa;
  3. A existência de regulamentos ambientais.

Tirando o objetivo de aumentar as poupanças operacionais com fatores produtivos, as restantes motivações são decorrentes de pressões sociais ou regulamentares, que, pela sua obrigatoriedade (à qual não me oponho, muito pelo contrário) não impactam decisões estratégicas do negócio.

Veja-se que uma das razões menos relevantes para a introdução de tais inovações é a (in)existência de procura do mercado por inovações ambientais (o que acaba por ser incoerente com o que é expresso pelas pressões da sociedade e, no limite, dos consumidores).

A irrelevância económico-financeira da maioria dos investimentos em inovações de cariz ambiental faz com que os níveis de investimento nas mesmas acabem por não ser significativos: dos cerca de 1,6 mil milhões investidos, em 2016, em atividades de I&D, apenas 30 milhões foram direcionados para inovações ambientais, ou seja, apenas 2,6% do investimento nacional em I&D é aplicado neste contexto.

Falar de prevenção de resíduos ou da sua tentativa valorização, em contraponto com a sua eliminação, é indissociável de investimentos em matéria de inovação. Para a realização de tais investimentos é necessário que conceitos como a economia circular ou a prevenção de resíduos passem de chavões presentes em relatórios de sustentabilidade a atividades críticas que impactem as decisões estratégicas das empresas.

É necessário que, por um lado, existam benefícios económicos (na ótica do consumidor final) à opção por produtos decorrentes de inovações em matéria ambiental, na medida em que todo e qualquer consumidor é favorável a tais produtos até chegar a hora de os colocar no carro de compras e ter de desembolsar o valor acrescentado associado aos mesmos. Por outro lado, investimentos em inovações que permitam prevenir ou reutilizar resíduos devem ser dotados de benefícios fiscais e financeiros de elegibilidade facilitada que tornem tais decisões apelativas. Devem ainda ser partilhados casos de estudo, nacionais ou internacionais, que demonstrem quantitativamente o retorno em investimentos desta natureza.

Não há circularidade sem economia, mas de pouco nos servirá uma economia sem circularidade e, por consequência, sustentabilidade.


Gonçalo dos Santos Rodrigues é Partner da WINNING Scientific Management, sendo o responsável pelo centro de competência de Strategic Management. É o Presidente da representação ibérica da Association for Strategic Planning.

Licenciado em Gestão pelo ISCTE-IUL e pós-graduado em Marketing pelo mesmo Instituto, tem uma vasta experiência enquanto consultor em gestão de projetos de estratégia, tendo colaborado com organismos públicos e empresas privadas.

goncalo.rodrigues@winning.pt

https://www.linkedin.com/in/gdsrodrigues/

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