Desafios e Oportunidades no Uso Sustentável da Água

  • 30 outubro 2016, domingo
  • Água

O uso sustentável da água perspetiva-se como um dos principais problemas ambientais não só à escala de cada sociedade, mas também à escala global.

Planificar para gerir

A competição pelo recurso água vai exigir soluções sustentáveis que só poderão ser implementadas com formas de governança que terão de ter os meios de atuação necessários para que as respetivas decisões sejam aceites e respeitadas. Em Portugal, é importante que as medidas dos Planos de Gestão de Bacia Hidrográfica e os objetivos para as massas de água sejam estabelecidas com pragmatismo e com um programa de implementação realista, face aos meios realmente disponibilizados, sob pena de se perder credibilidade na governança do setor.
Nas grandes cidades dos países em vias de desenvolvimento, o crescimento dos periurbanos vai colocar enormes desafios na gestão do ciclo urbano da água, que poderão ainda ser mais acentuados pelas alterações climáticas. Os desenvolvimentos da última década no abastecimento de água foram significativos mas não foram acompanhados pelo saneamento. Apesar de ser compreensível essa estratégia de concentrar todos os recursos no abastecimento de água, isso não basta. É necessário planear intervenções concertadas que envolvam também o saneamento das águas residuais para se conseguir, em termos de saúde pública e de proteção do meio ambiente, os benefícios desejados. Mas o grande desafio é como fazer as intervenções simultâneas em todas as frentes com os escassos recursos que esses países têm disponíveis.

A experiência de Portugal neste domínio é relevante

O desenvolvimento do setor da água nas últimas décadas foi notável. Fez de Portugal um caso de sucesso reconhecido internacionalmente cujo saber deve ser partilhado. Os modelos e as soluções centralizadas de água, saneamento e resíduos, que implementámos com sucesso, podem ser uma referência para países onde é expectável um grande crescimento das áreas urbanas. Mas também há que reconhecer que em muitos locais de Portugal as soluções centralizadas chegaram tarde demais, tendo as populações adotado soluções individuais que se revelam adequadas. É com agrado que se constata que o PENSAAR 2020 procura dar o enfoque no melhor aproveitamento das infraestruturas existentes em detrimento da expansão em novos sistemas. Face às fracas taxas de adesão que se têm verificado em algumas redes de saneamento efetuadas nos últimos anos, o incentivo ao levantamento das fossas individuais existentes para avaliar da respetiva adequabilidade na cobertura do serviço parece uma solução sensata. Mas é também importante que, em Portugal, não fique mais uma vez por enquadrar a questão dos pluviais.

Os pluviais nas zonas urbanas não são só um problema de inundações

São também um problema de qualidade da água que necessita de intervenções adequadas para garantir a boa qualidade das massas de água a jusante. São também um enorme desafio e uma oportunidade de voltar a colocar a água no centro do desenvolvimento urbano. Devolver à cidade as suas linhas de água, anteriormente canalizadas por questões de saúde pública, e criar dessa forma novos espaços de lazer e um novo patamar de relação da cidade com a água.
Por último, face às carências de conhecimento que ainda existem em muitas entidades gestoras sobre as infraestruturas que têm e os respetivos diagnósticos, investir no conhecimento para apoio à decisão e na partilha desse conhecimento é a forma mais económica e sustentável de vencer os desafios do futuro neste setor.

António Jorge Monteiro

Professor no Instituto Superior Técnico

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