A conservação de energia poupa, não custa

Escrever sobre eficiência energética deveria ser redundante.  Redundante porque o desígnio da conservação de energia é um dos princípios da ecoeficiência e deveria estar impregnado na conceção dos produtos, bem como no desenho dos processos e sistemas. Até acredito que essa seja, em regra, a perspetiva. Ainda assim, também é verdade que aquilo que hoje consideramos como uso eficiente poderá estar amanhã ultrapassado. É assim o mundo, sempre na procura de outros patamares de conhecimento e caminhos inovadores. Por outro lado, um sinal claro das várias escalas que podem ser atingidas por esta problemática é observada ao escrever o termo “energy efficiency” num motor de busca na internet. Imediatamente, começam a surgir lâmpadas, janelas, casas, bombas, indústria e, curioso, indicadores de eficiência.

A curto ou médio prazo, investir na conservação de energia não é um custo, mas uma poupança. Um relatório editado no Reino Unido, referido no “The Guardian”, revela a dimensão deste desafio. Indicia-se que metas ambiciosas para a conservação de energia permitiriam poupar um pouco mais de 7 mil milhões de euros. Não consigo validar a aritmética, mas o mais interessante é reconhecer a ordem de grandeza do montante em causa e as medidas sugeridas para chegar a esse objetivo. Algumas são relativamente simples. Por exemplo, decidirmos que daqui a dez anos apenas se poderão construir casas neutras em termos de emissões de carbono. Afirma-se que este progresso seria mais fácil com incentivos ou estímulos por parte do Estado: é provável que o investimento nas nossas casas possa ser mais rentável que qualquer depósito bancário, considerando os juros oferecidos. Em Portugal, assistimos agora ao lançamento do IFRRU 2020 (Instrumento Financeiro para a Reabilitação e Revitalização Urbanas), que contempla o financiamento de investimento na eficiência energética de imóveis abrangidos por algum plano de ação municipal. Assim visto, parece uma boa iniciativa.

O desafio tecnológico que nos é colocado pela conservação de energia pode levar a um Portugal melhor, depois de já o ter feito com a produção de energia renovável.

Não sei se quando este editorial for publicado não estaremos com as reservas hídricas refeitas, graças à chegada de um período de chuva, muito ansiado. Espero que sim, que o período de seca tenha terminado, não apenas porque o fornecimento de energia hidroelétrica depende da disponibilidade de água, mas por todas as outras razões que conhecemos. No entanto, é preciso ter em atenção que esse será sempre um tema que nos preocupará em Portugal, de forma recorrente e, quando não esse, o seu contrário.

As consequências dos riscos gerados pela atividade humana têm a dimensão inversa da inteligência.

Em Portugal, resiliência significa não apenas albufeiras com níveis de reserva de água satisfatórios mas, também, o bom uso dos recursos hídricos subterrâneos, as afluências, ou não, de Espanha, em quantidade e qualidade, assim como medidas de adaptação setoriais. Adicionalmente, a chuva também trará para a ribalta, novamente, o tema dos incêndios, pois os primeiros escoamentos irão refletir essa ocorrência e a qualidade da água para consumo humano na torneira depende, em grande parte, de origens de água superficiais. Em todos os casos, a energia terá um papel a desempenhar, seja para captar água ou a suprir maiores necessidades de tratamento, o que será mais uma prova da ligação intima entre água e energia e de como é importante a poupança em ambos os setores.

Como sempre, nas questões ambientais temos de querer antecipar o problema e não irmos, apenas, atrás do prejuízo.

António Guerreiro de Brito

Membro do Conselho Editorial / Presidente do Instituto Superior de Agronomia

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