A seca e a intensificação sustentável dos sistemas agropecuários: desafios e soluções

Resultando a seca de uma ausência prolongada de precipitação, a quantificação da sua severidade e respectiva consequência é relativa e depende da actividade para a qual se analisa o seu efeito. Na agricultura a seca é também um conceito relativo, dependendo do sector em análise. Enquanto no regadio a seca está relacionada com o escoamento e a recarga das albufeiras e aquíferos (seca hidrológica), na agricultura de sequeiro está relacionada com perdas anormais da produção. Procura-se neste artigo apresentar tecnologias agrícolas tendentes a adaptar os agroecossistemas baseados em agricultura de sequeiro às crescentemente graves situações de seca. O tamanho de artigo disponível obriga a focar a análise no caso do sistema de montado de base agro-silvo-pastoril, “esquecendo” as áreas do Alentejo com culturas permanentes lenhosas (olival, vinha, pomares) e as de terra limpa, vocacionadas para as culturas arvenses (cereais, leguminosas, outras). Também não se esquece que serão as contas de cultura e a análise económica a definir as opções a escolher como boas, em complemento das considerações de sustentabilidade ambiental.

Na agricultura de sequeiro a seca ocorre quando a escassez de precipitação no Outono e/ou Primavera reduz de forma anormal a produção, sendo extrema quando ocorre simultaneamente nos dois períodos. A juntar a esta análise dos valores normais, temos a variabilidade do nosso clima. Para um período consecutivo de 10 anos, a precipitação acumulada de 50 mm (necessária para se dar o início do ano agrícola) pode ocorrer entre o 2º decêndio de Setembro e o 1º decêndio de Novembro, o que tem um efeito dramático na duração do período favorável de Outono e no potencial produtivo das forragens. A precipitação conjunta de Março a Abril pode variar entre valores de 40 a 325 mm, afectando a duração da Primavera, sendo particularmente importante a precipitação de Abril. A escassez de precipitação neste período afecta mais a produção de culturas para grão (como os cereais) do que as culturas forrageiras, que terminam o seu ciclo em finais de Abril e início de Maio. A precipitação total do ano condiciona o encharcamento de Inverno, que afecta a produção de todas as culturas. A evolução da ocupação cultural do território traduz a maior adaptação das forragens ao nosso clima. Entre 1983 e 2013 houve uma grande transferência da área ocupada por culturas anuais (terra arável) para pastagens permanentes. É, assim, evidente que os sistemas agro-pecuários (associados à floresta) são indispensáveis à sustentação do território, desempenhando um papel crucial no combate à desertificação (e à prevenção dos incêndios).

Artigo da autoria de Mário Carvalho, Professor Catedrático Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas (ICAAM), Universidade de Évora

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