Como a tecnologia está a mudar a gestão da água

  • 31 maio 2017, quarta-feira
  • Água

Texto e fotografia por Carlos Alberto Costa

O V Fórum Aquasis debateu em Lisboa os desafios vitais da gestão da água no contexto do desenvolvimento das cidades inteligentes. A evolução caminha para a agregação de redes locais, digitação de processos de gestão, controlo e manutenção dos sistemas.

O evento organizado pela empresa Aquasis – Sistemas de Informação (Grupo AdP) reuniu, a 19 de Maio, no grande auditório do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa, mais de cinco centenas de participantes entre investigadores, autarcas, responsáveis governamentais, decisores de entidades gestoras e outros profissionais ligados à gestão da água.

O Fórum Aquasis tinha este ano por tema “Água 4.0 – Cidades Inteligentes” e permitiu, também, conhecer melhor duas iniciativas consideradas estratégicas para o setor português da água, casos do centro de excelência Lis-Water (Lisboa International Centre for Water) e da Porto Water Innovation Week, que decorre no Porto de 24 a 30 de Setembro próximo.

Na intervenção de abertura dos trabalhos, Alexandra Serra, presidente do Conselho de Administração da Aquasis, destacou o sucesso da iniciativa face a um número recorde de inscrições: “em 2013 assumimos o compromisso de organizar anualmente um fórum de partilha e de boas práticas, centrando o papel dos sistemas de informação aplicados aos serviços urbanos de água. Hoje é com muito orgulho que constatamos que este Fórum passou a ser um evento de referência, demonstrando a importância que a comunidade ligada ao setor atribui aos sistemas de informação, gestão eficiente, sustentável e moderna dos sistemas de abastecimento da água e de saneamento.”

A gestora justificou a escolha do tema Água 4.0 – cidades inteligentes, salientando que “não há cidades inteligentes sem uma gestão inteligente dos sistemas de água.”

“Uma cidade inteligente não é uma apenas cidade que consegue ter tudo interligado e acesso aos mais variados dados. É preciso saber o que fazer com eles. O mesmo se passa nos sistemas de abastecimento de águas. Sensores, medidores e outros equipamentos produzem diariamente toneladas de dados, e receber, tratar e utilizar estes dados para otimizar a gestão é também um dos grandes desafios da era da Água 4.0”, referiu Alexandra Serra.

A revolução tecnológica

Na mesa de abertura dos trabalhos, moderada pela própria Alexandra Serra, sentaram-se João Matos Fernandes, Ministro do Ambiente, João Nuno Mendes, José Ribau Esteves, André Rijo e Rafaela Saldanha Matos.

O Ministro do Ambiente salientou, na sua intervenção, que a “Água 4.0 representa a entrada definitiva das tecnologias de informação no quotidiano das entidades gestoras de todos os sistemas de abastecimento de água, drenagem e tratamento e, nessa medida, anuncia um novo paradigma.”

João Matos Fernandes valorizou a importância da organização do trabalho e o papel que as tecnologias podem ter nessa organização, no sentido de racionalizar processos e conseguir, por essa via, obter vantagens financeiras e também ambientais.

“Este novo olhar sobre o setor da água pressupõe uma visão estratégica, um enquadramento institucional, um ordenamento ajustado à realidade que promova modelos de governança inovadores, e com isto desenhar um sistema cada vez mais robusto e mais confiante para que possa, ele próprio, reproduzir-se e partilhar com todos os outros setores que constroem as cidades inteligentes”, declarou o titular da pasta do Ambiente.

João Nuno Mendes, presidente do Conselho de Administração do Grupo Águas de Portugal (AdP SGPS), reforçou a ideia da importância da revolução tecnológica que está a mudar as empresas.

“Nos contactos que mantemos com as entidades gestoras e os municípios sentimos uma alteração profunda de mentalidade e envolvimento das equipas neste objetivos do setor de eficiência com agregação de ferramentas e processos tecnológicos avançados”, referiu o gestor.

O cliente é o patrão…

José Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Aveiro, definiu a inteligência nas cidades como sendo a capacidade “em usar e rentabilizar os recursos ao nosso dispor numa relação de custo mínimo e máxima qualidade”.

Falando da relação com os parceiros na gestão da água, o autarca defendeu a integração dos sistemas de água, no sentido de maximizar os recursos, permitindo melhorar a qualidade e a informação online disponível para o consumidor – que também é o patrão do sistema - e para os gestores da rede.”

“Em Aveiro demos os passos necessários para essa integração, que ainda não é total mas caminha nesse sentido, criámos a Águas da Região de Aveiro, com um conceito de gestão inovador em regime de parceria pública e promovemos uma associação de municípios para gerir a Alta (captação, tratamento e fornecimento) da água”, explicou o presidente da câmara aveirense.

Ribau Esteves alertou, ainda, para o “problema ambiental” que hoje resulta da gestão das águas pluviais em espaço urbano: “quer o Portugal 2020, quer o QREN, erradamente, não consideram elegível a despesa em redes de águas pluviais, quando sabemos que algumas das perdas de eficiência dos nossos sistemas de tratamento de efluentes têm a ver com o facto de tratarmos água que podia, com investimentos a montante, ser retirada dessas redes de tratamento.”

André Rijo, presidente da Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos, falou sobre a gestão da água num município com uma rede de distribuição envelhecida e onde, em 2016, se registou 56,9% de perdas/consumo de água não faturado.

O autarca admitiu não ser fácil para um município como o seu responder aos desafios modernos da gestão da água: “por um lado estamos otimistas com a ideia da agregação do sistema em baixa (rede de distribuição ao consumidor), que permite a concentração de recursos qualificados e economias de escala decisivas para um município com o nosso, por outro, temos consciência de que o nosso aglomerado urbano é disperso, a rede de abastecimento é longa e muito envelhecida, obrigando a intervenções no subsolo que implicam sempre grande investimento público, e por isso nem sempre atrativo.”

A intervenção de Rafaela Saldanha Matos, Investigadora Coordenadora do Departamento de Ambiente do LNEC, incidiu sobre os sucessos recentes de Portugal no Horizonte 2020, focando a temática da água, e partilhou também alguma informação sobre as novas oportunidades para o setor da água neste segundo ciclo do Programa-Quadro Comunitário de Investigação & Inovação.

Redes que “falam”

No painel que se seguiu à mesa de abertura, moderado por Eduardo Gomes, presidente do Conselho de Administração das Águas do Norte, apresentaram comunicação dois convidados especiais do evento: Claus Homann e Christopher Gasson.

Homann, Diretor de Operações (COO) da Aarhus Water, entidade gestora em Aarhus, segunda cidade da Dinamarca, partilhou experiências na gestão completa do ciclo urbano da água e na gestão energética associada ao tratamento de águas residuais.

Christopher Gasson, editor da Global Water Intelligence, falou sobre o impacto das soluções digitais na gestão dos sistemas de água.

“A digitalização está a criar uma rede que vive, sente e fala connosco, ao contrário dos sistemas de gestão, controlo e monitorização convencionais, que são estáticos e não sentem”, referiu o editor.

No segundo painel do dia, moderado por João Pires, Diretor Executivo da Parceria Portuguesa para a Água (PPA), participaram Frederico Fernandes, da Porto Water Innovation Week e Jaime Melo Batista, da Lis Water.

A Semana da Água que decorre no Porto entre 24 e 30 de Setembro deverá reunir mais de um milhar de participantes ligados à gestão da água, tecnologia, indústria, agricultura e investigação.

O projeto LIS-Water, financiado pela União Europeia, foi pensado para ser um centro inovativo aberto e com projeção internacional. Constituído por entidades públicas e privadas com interesses no sector da água, vai desenvolver conhecimento e inovação, apoiando a incubação de novas empresas e incentivando a participação pública no setor da água.

José Pestana, Administrador Executivo da Aquasis, e Carlos Martins, secretário de Estado do Ambiente, abriram a sessão da tarde no V Fórum Aquasis. O governante fez um breve balanço sobre o POSEUR, Programa Operacional para a Sustentabilidade e Eficiência no uso de Recursos, um dos 16 programas criados para a operacionalização da estratégia Portugal 2020, no âmbito da qual o país vai receber 25 mil milhões de euros até 2020.

Na parte da tarde falou-se, ainda, da importância de apoio especializado nos processos de levantamento cadastral, de modelação hidráulica de sistemas, gestão de perdas e fugas, automação e telegestão, entre outros assuntos.

Orlando Borges, presidente da Entidade Reguladora do Setor da Água e dos Resíduos (ERSAR), encerrou os trabalhos.

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